Jonathan Glazer foi diretor de vários clipes importantes nos anos 90, e assim como outros, segue bons caminhos no cinema
O Oscar realizou a entrega das estatuetas aos melhores filmes da temporada de 2023, sem muitas surpresas. Oppenheimer saiu consagrado, Barbie esnobado, Pobres Criaturas injustiçado, e Jonathan Glazer valorizado pelo ótimo Zona de Interesse.

O filme conta a história da família Hoss, onde o patriarca Rudolf Hoss mantinha uma vida normal em uma bela casa com sua esposa e filhos ao lado de um dos campos de concentração do nazismo, em Auschwitz. Rudolf era o responsável pelo local e também pela logística e arquitetura do genocídio. Apesar do forte cheiro dos corpos queimados que saía das chaminés das fornalhas e dos gritos das vítimas, nada parecia abalar a família.
Zona de Interesse se atém aos detalhes e ao minimalismo como ponto central do filme. Cenas frias, câmeras estáticas e o som ambiente fazem com que o espectador viva no local junto com a família Hoss e sinta a repulsa da frieza e crimes cometidos naquele lugar. O diretor instalou dez câmeras escondidas em locais estratégicos da casa e tirou toda a equipe do set para representar melhor a rotina da família. Assim, os atores viviam realmente a experiência da família, como se fosse um reality show.
O trabalho levou o prêmio do Oscar de Melhor Filme Internacional e Melhor Som. No momento de subir ao palco para receber a estatueta, Glazer fez questão de criticar a guerra entre Israel contra o Hamas e os Palestinos, fazendo uma alusão a desumanização que os dois lados geram com o conflito.
Voltando para o campo da arte, Glazer sempre foi um diretor peculiar. Fez “Reencarnação” com Nicole Kidman, em 2004, e o maravilhoso Sob a Pele, em 2013, com Scarlett Johansson. Neste último, Scarlett faz a persona de uma mulher fatal – no maior dos sentidos literais – e vive uma alienígena que seduz os homens para comê-los na sequência. O interessante é que isso ocorre em um bairro da Escócia com toda a morbidez e frieza que o país europeu proporciona. Jonathan conseguiu transformar o lado sensual de Scarlett em medo absoluto.
Jonathan Glazer, o diretor de videoclipes
Isso tudo para falar que Jonathan Glazer vem, senão da escola de clipes, pelo menos das eras marcantes das produções veiculadas na MTV. Nos anos 90, você com certeza foi impactado com algum dos seus trabalhos. Ele dirigiu “The Universal”, do Blur, “Into My Arms”, do Nick Cave and The Bad Seeds, “Karmacoma”, do Massive Attack, “Karma Police” do Radiohead, e o inesquecível “Virtual Insanity”, do Jamiroquai.
Com Jamiroquai ganhou vários prêmios e fez com que nossa cabeça arcaica bugasse para entender como ele conseguiu fazer Jay Kay se mover em uma sala com os móveis, enquanto os móveis se mexiam, ou o chão se mexia, ou Jay Kay deslizava. Coisa de doido, e um clipe marcante.
Agora, elenco cinco diretores que, assim como Glazer, fizeram clipes maravilhosos nos anos 90 e 2000, e consequentemente, viraram grandes diretores do cinema mundial.
Anton Corbijn
Holandês, 68 anos, talvez o mais famoso e antigo dos diretores que irei citar aqui. Anton, além de diretor de cinema, é fotógrafo e escritor e foi responsável por clipes de Echo and The Bunnymen, “Strange Love” e vários outros do Depeche Mode, Front 242, “Heart Shaped Box” do Nirvana, Metallica, Nick Cave, Rollins Band, Johnny Cash, e alguns clipes do U2, como “One”.
Sua carreira no cinema não é extensa, mas filmes como “Um Homem Misterioso”, “O Homem mais Procurado”, “Life” e a cinebiografia de Ian Curtis, do Joy Division, no filme “Control”, foram trabalhos relevantes de Anton Corbijn.
Spike Jonze
Nova Iorquino, 54 anos, começou a carreira na indústria de filmes para o skate, e assim como Anton, tem uma extensa carreira videoclíptica com direções primorosas. Bandas como Sonic Youth no clipe 100%, LCD Soundsystem – “Drunk Girls”, Arcade Fire – “The Suburbs”, Daft Punk – “Da Funk”, Björk – “It’s Oh So Quiet”, Weezer – “Buddy Holly”, Fatboy Slim – “Praise You” / “Weapon of Choice” e um dos mais aclamados e famosos, Beastie Boys – “Sabotage”.
Já no cinema, são poucos filmes, mas com trabalhos excêntricos e premiados. O elogiado “Quero Ser John Malkovich”, “Onde Vivem os Monstros” e o genial “Her”, ganhador de um Oscar e Globo de Ouro.
Michel Gondry
Francês, 60 anos, conhecido por seu estilo visual inventivo e manipulação distinta da mise en scène. Estes adjetivos peguei do famoso wiki e concordo. Quem viu o filme “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembrança” percebe a inventividade no roteiro e no modo como as cenas são interpretadas e dirigidas. Gondry tentou repetir anos depois no “Rebobine, Por Favor”, mas sem muito alarde.
Michel Gondry tem uma vasta lista de clipes. Iniciadas nos anos 80, foi na década seguinte e nos anos 2000 que Gondry foi muito requisitado. De Lenny Kravitz a Rolling Stone, parceiro de Bjork em vários videoclipes, Massive Attack, o clássico clipe Everlong dos Foo Fighters, No One Knows dos QOTSA e o espetacular e que representa muito a identidade de Michel, o clipe da música “Fell in Love with a Girl” dos The White Stripes e seus milhares de Lego.
Sua carreira cinematográfica continua, mas, com vários filmes realizados na sua terra mãe, França. Meu algoritmo escondeu essas recomendações, mas irei atrás.
Jonathan Dayton e Valerie Faris
Dupla de diretores da Califórnia, Jonathan, 66, e Valerie, 65, são um casal que trabalha junto na produção de documentários e direção de videoclipes desde os anos 80. Mas foi nos anos 90 que os trabalhos com clipes aumentaram consideravelmente.
R.E.M, Weezer, Soundgarden, Ramones, Oasis, vários do Red Hot Chili Peppers, e os mais legais e importantes dos Smashing Pumpkins, dentre eles, “Rocket”, “1979”,”Perfect” e o premiadíssimo “Tonight – Tonight”, tiveram a direção do casal Jonathan e Valerie.
Já no cinema, fizeram “Pequena Miss Sunshine”, um filme considerado cult e com um elenco digno de Oscar, e uma história maravilhosa. Também dirigiram “Guerra dos Sexos”, com Emma Stone e Steve Carell, além de séries.
Marc Webb
Outro diretor americano, de Indiana, que teve grande destaque no fim dos anos 90 e nos anos 2000, produzindo uma “infinidade” de clipes para bandas de Hardcore, Emo, Rap e Pop.
Green Day, Good Charlotte, MxPx, My Chemical Romance, Incubus, e artistas como Maroon 5, Santana, Hilary Duff, Fergie, Miley Cyrus, tiveram clipes dirigidos por Marc Webb.
Já no cinema, dirigiu filmes como The Gifted e os dois filmes da franquia do Espetacular Homem-Aranha. Mas o que chamou a atenção foi seu primeiro trabalho em uma das melhores comédias românticas já feitas: o filme 500 Dias com Ela, com Joseph Gordon-Levitt e Zooey Deschanel, um clássico da geração Y.
Deixo aqui essa reportagem da Rolling Stone com algumas lições de amor que aprendemos com o filme.
Estes foram alguns diretores marcantes que trabalharam com música, fazendo videoclipes com roteiros de cinema e passaram para a sétima arte com relevância, trazendo novos ares e formatos para as telas. Isso porque nem falei de David Fincher, um dos mais premiados diretores e responsável por vários filmes marcantes. Fica para a próxima.
Zona de Interesse estreia no dia 31 de março de 2024, no Amazon Prime.