QOTSA

De volta ao perigo com o Queens of the Stone Age

Tempo de leitura: 7 min

In Times New Roman é um disco denso em todas as suas formas que traz a banda ao rock

O QOTSA lança seu oitavo álbum pela lendária Matador Records com aquele apelo e espectro de perigo que temos quando ouvimos um bom álbum de rock. Se não for para sentir um certo medo, qual a graça do Rock and Roll?

O medo aqui está envolto em várias circunstâncias, que vão desde o teor da escrita do líder Josh Homme, até as métricas e cadências complexas que faz uma banda como o QOTSA soar estranho para as massas. A temática da arte da capa escolhida e os clipes que a banda lançava enquanto liberava alguns singles para o nosso deleite, também fazem parte do pacote.

In Times New Roman, oitavo disco do QOTSA

Para falar um pouco sobre este disco e ter essa visão, voltei a ouvir o penúltimo trabalho da banda, o Villains, que considero um disco fraco, feito para dançar na pista, feliz, tipo festa da 89 FM. Já nesse novo álbum, me transportei para um bar típico do filme Um Drink no Inferno.

Lambendo as feridas

Desde 2017, pós-ressaca de sucesso e tudo mais que vem com ele, Josh passou por vários momentos conturbados em sua vida. Se envolveu em agressões em shows, entrou em processo de divórcio com sua antiga esposa, Brody Dalle (The Distillers), tendo sido acusado de ser abusivo com seus filhos e com restrições pesadas para vê-los.

Josh Homme

Se não o suficiente, ainda teve a perda de amigos próximos como Mark Lanegan e Taylor Hawkins, um diagnóstico de câncer, algo que só foi divulgado após passar por tratamento, e ainda a fatídica pandemia. 

Eu me senti acorrentado ao chão nos últimos três anos

Josh em entrevista ao site Revolver

Diante de tudo isso, pouco se ouviu do líder do QOTSA. Como de costume, foi duramente criticado e julgado nas redes sociais, e por parte da mídia. Quando respondia sobre as polêmicas, eram com notas oficiais protocolares ou com documentos legais.

Josh Home – Foto de Andreas Neumann

Nesse meio tempo, fez o que nós, animais, fazemos quando estamos machucados e vulneráveis. Recuamos e lambemos as feridas para voltar em breve. Um artista complexo e talentoso como Josh, quando age assim, canaliza tudo em arte, e foi isso que ele fez. Voltou às raízes com um hard rock que faz jus ao nome, e compôs um disco com as letras mais explícitas de sua carreira.

Para mim, é tudo pessoal. Quando alguém diz que não é pessoal, eu fico tipo, ‘Essa é a mentira que você conta para si mesmo, filho da puta.’ Se não for pessoal, não faça.

Josh em entrevista ao site Revolver

A volta do peso

Quando soltaram o primeiro single, Emotion Sickness, era perceptível que a banda estava de volta à fórmula que os consagraram durante sua jornada, até Villains. Peso das guitarras, muitas harmonias quebradas, baixo e bateria marcante, e os vocais de Josh com todos os predicados emocionais adquiridos.

Queens of the Stone Age – “Emotion Sickness”

O segundo single, Carnavoyuer, avisou em bom-tom. Sai da frente, voltamos! Um clássico absoluto, que entra fácil no setlist dos shows da banda. Uma música deliciosa, dançante no padrão QOTSA.

Obscenary, Sicily e Straight Jacket Fitting, com os dois primeiros singles, são os pontos altos do disco. Todas seguem o estilo denso e complexo das harmonias do QOTSA, entregando ótimas guitarras, que você consegue ouvir muito bem o caminho que cada uma vai tomando nas canções. E não é só obra de Josh, pois Troy Van Leeuwen e Dean Fertita, são ótimos guitarristas.

Queens of the Stone Age- “Carnavoyeur”

Paper Machete poderia muito bem ter feito parte do primeiro disco da banda, remetendo a era Rancho de La Luna, além de ter uma letra com várias diretas a Brody. Logo na sequência, uma trinca de músicas com Negative Spaces, Time & Place e Made to Parade reforçam o compromisso dos QOTSA de não deixar baixar o nível. What the Peephole Say parece um resquício de Villains, mas na roupagem Josh Homme de produzir.

Vale citar o ótimo trabalho de cordas, características em vários discos da banda, os vocais que contaram com ajuda de Matt Helders (Arctic Monkeys) e mais 03 backings vocals, o baixo poderoso de Michael Shuman, e a bateria perfeita e pesadíssima de Jon Theodore (Ex Mars Volta).

Queens of the Stone Age – Foto por Andreas Neumann

Reunidos com a formação mais antiga da banda, que, senão a definitiva, é a que mais chega perto, o QOTSA lança um disco com 10 ótimas músicas. Pesadas, raivosas, para tentar exorcizar e curar a doença emocional de qualquer um.

Quando escuto QOTSA, quero ter aquele sentimento de confrontar os meus demônios, e no fim, apesar dos machucados, sair vitorioso e pronto para voltar ao buraco de novo.

Avaliação: 4 de 5.

Ficha técnica

Released June 16, 2023

Studio
Pink Duck (Burbank)
Shangri-La (Malibu)
Dumbfox Studios
Readymade Studio (Paris)
The Tempermill (Ferndale)

Duração 47:37

Selo Matador
Produção Queens of the Stone Age

Queens of the Stone Age

Josh Homme – Vocais, Guitarras
Dean Fertita – Guitarras, Sintetizador, Keyboards
Michael Shuman – Baixo e vocais
Jon Theodore – Bateria
Troy Van Leeuwen – Guitarras, vocais, Keyboards

Additional musicians

Richard Dodd – cello (tracks 1, 6, 8, 10)
Leah Katz – viola (1, 6, 8, 10)
Daphne Chen – violin (1, 6, 8, 10)
Eric Gorfain – violin (1, 6, 8, 10)
Nina McCoy – additional vocals (1)
Sharetta Morgan-Harmon – additional vocals (1)
Tenderlie Lavender – additional vocals (1)
Matt Helders – additional vocals (9)
Technical

Gavin Lurssen – mastering
Reuben Cohen – mastering
Mark Rankin – mixing, engineering
Justin Smith – engineering
Robert Stevenson – engineering
Greg White – engineering assistance
Davey Latter – drum technician
Salar Rajabnik – guitar technician, keyboard technician
Wayne Faler – guitar technician, keyboard technician
Matt Zivich – guitar technician
Brendan Benson – additional engineering (4)
David Feeny – additional engineering (10)
Visuals

Boneface – artwork

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Scroll to top