Ty Segall - Three Bells

Ty Segall lança um disco que beira a perfeição

Tempo de leitura: 5 min

Ty Segall, o californiano de 36 anos, prodígio que vem lançando discos desde 2008, chega ao seu décimo quinto álbum, intitulado “Three Bells“. Super bem recebido pela crítica especializada — algo recorrente a cada lançamento — Segall mostra maturidade, perspicácia, criatividade e talento, tudo em uma embalagem nada convencional, mas com uma qualidade invejável para sua geração.

Segall é daqueles artistas que precisam colocar tudo para fora a qualquer momento. Sofre de uma síndrome de TDAH criativa (isto, eu que inventei). “Three Bells” é o décimo quinto disco de sua carreira, iniciada em 2008, além de ter lançado trabalhos colaborativos e parcerias com outros artistas, trilhas sonoras, discos de covers (T-Rex, uma de suas maiores influências), projetos ao vivo, somando mais de 23 discos em 16 anos.

Ty Segall - Foto por Deneé Segall
Ty Segall – Foto por Deneé Segall

Em 2022, decide por um intervalo maior — dois anos, coisa rara em sua carreira — para que “Three Bells” chegasse perto da perfeição. Ty Segall encapsulou todas as suas influências, que vão desde o garage rock, as bandas psicodélicas dos anos 60, o lo-fi e o indie rock anos 90, e emulou Zappa, Pink Floyd pré e pós Syd Barrett até “Obscured by Clouds”, álbum branco dos Beatles, e doses cavalares de Marc Bolan, para lançar um dos discos de rock do ano.

Atenção! O álbum saiu em janeiro.

Tudo no seu tempo com Three Bells

“Three Bells” é um disco feito com seu parceiro de longa data, Emmett Kelly (baixista e guitarrista), e músicas compostas por sua esposa, Denné Segall (que também canta em duas faixas). Logo no início, podemos ver uma semelhança entre “The Bell” e a música “Fearless”, do Pink Floyd, no álbum “Meddle”. A faixa é uma amostra perfeita de como o disco se comporta ao longo de 15 músicas em pouco mais de 01 hora. Violões, guitarras, toques experimentais, refrões desconexos — uma delícia.

“Void”, uma faixa conduzida em sua maior parte por violão e que faz você pensar que seria uma canção quase instrumental. Cresce aos quatro minutos, quando uma guitarra espacial, mistura de T-rex com Flaming Lips, torna a música épica. Daí em diante, Ty Segall engata letras com um refrão que nos resta apenas fechar os olhos e curtir.

Ty Segall “Void” (Official Music Video)

“I Hear” e “Hi Dee Dee”, têm na guitarra o caminho para mais sons arrebatadores. Lembra, e é bom frisar, lembra as melodias guitarristicas de Josh Homme no QOTSA. Do começo ao fim, o instrumento mais rockeiro do mundo manda nas músicas.

“My Best Friend” é mais uma ode, desta vez, para um de seus cachorros. Um pós punk, com noise e fofura, exalado na letra e no clipe. Veja o clipe e você não vai nem reparar na estranheza da melodia.

“Reflections” é Neil Young se familiarizando com soul music nas entranhas de Segall. Quando ele finalmente expressa esse elemento estranho, sua transformação é ainda mais evidente. A faixa “Move” é a primeira participação de sua esposa Denné nos vocais. Ao ouvir, enxerguei toda a verve zappiana nas suas notas e estruturas.

Muito se fala que nesse disco, Ty junto com Denné, emularam o espírito de John e Yoko, onde um afeta a arte do outro. Faz todo sentido ao se ouvir “Move” e prestar atenção na letra e no clipe de “Eggman”.

“My Room”, “Watcher”, “Repetition”, “To You” e “Wait” são ótimas músicas que carregam todas as influências aqui citadas com o espírito glam rock e inventivo de Bowie e Marc Bolan. E como a voz de Segall lembra o líder do T-Rex!

Ty Segall “My Room” (Official Music Video)

A música “Denné”, uma ode a sua esposa que repete o nome da digníssima várias vezes, tem uma linha de baixo que pontua e conduz a canção junto a um trabalho de piano e guitarra jazzísticos com barulhinhos percussivos que faz a estranheza soar bela. Fechando o disco, “What Can We Do”. Uma música folk para esperar o fim do mundo ao lado do seu amor, nesse caso, de sua esposa e parceira.

Denné, que, se não desacelerou Ty Segall, mostrou que dar tempo ao tempo faz muito bem para a cabeça e para a arte. “Three Bells” é a prova disso. Um disco de paradoxo, que confronta o artista com os tempos atuais e desafia o espectador a ouvir a perfeição em 65 minutos. Hoje, quem consegue esse feito, vai se dar bem.

Avaliação: 4 de 5.

Créditos

Selo – Drag City

Músicos
Ty Segall – vocals, guitar, percussion (all tracks); drums (tracks 1–6, 8–15), bass guitar (1, 3–5, 8–12, 15), keyboards (2, 12)
Emmett Kelly – bass guitar (tracks 2, 6, 13, 14), electric guitar (7), acoustic guitar (13)
Ben Boye – keyboards (tracks 7, 14)
Denée Segall – lead vocals (track 7), vocals (15)
Mikal Cronin – bass guitar (track 7)
Charles Moothart – drums (track 7)

Técnicos e arte
Ty Segall – production (all tracks), mixing (tracks 3, 8, 11, 15), recording (tracks 3, 8, 10, 11, 15)
Cooper Crain – production (all tracks), mixing (tracks 1, 2, 4–7, 9, 10, 12–15), recording (1, 2, 4–6, 9, 12–14)
Matt Littlejohn – recording (track 7)
Visuals
Denée Segall – front photo, layout, design

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