Pagodeiro une a mente de jogador de futebol e tem mais a ver com Eric Clapton, Johnny Ramone, Morrissey e Kanye West do que você imagina
O cantor, compositor, produtor e atualmente participante do reality show BBB, Rodrigo Fernando Amaral Silva, mais conhecido pelo nome artístico Rodriguinho, está constantemente na boca do povo, mídia, trending topics, não pelo lado artístico, mas pela boca afiada, muitas vezes com expressões desnecessárias e equivocadas.
Mesmo depois de vários artistas ao longo dos anos participarem do programa global e terem a reputação marcada e manchada por polêmicas, Rodriguinho, marrento que só, decidiu dobrar a aposta e mostrar uma persona que junta a cabeça sexista e machista do jogador de futebol anos 90, com seu lado rockeiro enrustido, um misto de irmãos Gallagher com Lemmy do Motorhead.
Vou pontuar duas coisas: para o programa BBB, Rodriguinho entrega entretenimento old school. Outro ponto é que ele é um dos maiores compositores brasileiros dos últimos 20 anos, senão, sempre com qualidade, em quantidade, há de se garantir.
Rockeiro e Hitmaker
O cantor Rodriguinho, ainda adolescente, foi influenciado por um primo a gostar de rock, ouvindo de Kiss e Iron Maiden até Metallica e outras bandas. Esta história ele mesmo conta em um livro autobiográfico, e há quem diga que ele escuta o estilo em casa. Tem até uma apresentação na TV que mostra Rodriguinho cantando “Fear of The Dark”, do Iron Maiden, com uma banda cover.
Com sua família envolta no samba, aos 10 anos, fez parte do grupo infantil Toca do Coelho, formando depois o Muleke Travesso que mudou de nome para Os Travessos. Ao passar para a carreira solo, seu lado compositor aflorou.
Rodriguinho figura com uma extensa lista de composições musicais. Segundo o site UBC (União Brasileira de Compositores), Rodrigo possui 254 canções registradas no ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), sendo interpretadas por ele ou por outros artistas.
Cantores como MV BILL, Péricles, Luiza Possi, Fiuk, Mariana Rios, Ludmilla, MC Livinho, grupos como Axé Blond, Exaltasamba, Jeito Moleque, Parangolé, e artistas consagrados comercialmente como Michel Teló, Léo Santana e Thiaguinho cantam músicas da autoria de Rodriguinho.
“Fugidinha“, uma das músicas mais ouvidas na voz de Michel Teló, é uma parceria entre Rodriguinho e Thiaguinho. Thiago, o famoso ex-Fama, ex-Exaltasamba e ex-Fernanda Souza, é um dos maiores parceiros de Rodrigo, com mais de 10 músicas compostas juntos.
Rodriguinho, o pensador
Desde o início do BBB, Rodriguinho vem com todo afinco reverberando falas com teor misógino, gordofóbico, xenófobo e posições e atitudes arrogantes com os demais participantes, até mesmo com artistas que se apresentam na casa.
Fiscalizar a comida das mulheres participantes para que não engordem e, segundo ele, “estraguem os corpos”, instruir participantes a tomar cuidado para não cair na sedução por “interesse” de algumas participantes, ou utilizar termos pejorativos chamando uma participante do Amazonas de Índia, são alguns cancelamentos que o cantor vem colecionando.
Em alguns momentos, Rodrigo encarna o espírito de Julius turbinado. Enquanto o pai do Chris tem dois empregos, o cantor tem 254 canções e por vezes salienta que não precisa estar na casa (BBB). Afirma que não se inscreveu, foi convidado, e que poderia ganhar mais dinheiro fora da casa, fazendo shows.
O dilema de separar a vida pessoal do artista com sua obra
Estas falas, aliadas às atitudes comprometedoras, fazem o Rodriguinho parecer cada vez mais com artistas do rock que cometeram os mesmos erros durante a carreira. Podemos citar Morrissey, Eric Clapton, Johnny Ramone e Kanye West, artistas que também cometeram os mesmos erros e muitas vezes passam por um detox para recuperar o prestígio.
Um Ramone muito louco
Johnny Ramone, guitarrista de um dos expoentes do punk rock, os Ramones, sempre foi declaradamente conservador, fato que não dialoga com os ideais que o movimento prega. Além de roubar a namorada do parceiro de banda, Joey Ramone, apoiava Reagan e os dois presidentes Bush. Sua morte antes da febre do cancelamento o poupou de maiores constrangimentos.
Morrisey sincerão
Morrissey vem constantemente reclamando que está sendo apagado aos poucos da história dos Smiths. Apesar de achar impossível, pois sua voz, estética e composições jamais deixariam isso acontecer, suas declarações colaboram para tal.
Apoio ao Brexit dizendo que ajudaria a manter a identidade britânica, ficar do lado de Harvey Weinstein (Produtor de Hollywood condenado por assédios e estupros) e insinuar que os chineses são subespécies são algumas das forçadas de barra que Morrissey vem nos proporcionando. Sem dizer que há relatos dos músicos que o acompanham o acharem um mala.
Eric Clapton e o “foi mal, tava doidão”
Eric Clapton vem desde os anos 70 pendendo para o lado errado da história. Em 1976, teria dito que o Reino Unido estava “superpovoado” e que os britânicos deveriam votar em Powell (candidato da extrema direita) para que o país não se transformasse em uma “colônia negra”. O guitarrista teria afirmado que a solução seria “se livrar dos estrangeiros, dos pretos e dos crioulos” e em seguida começou a entoar repetidamente o slogan da Frente Nacional Britânica: “Mantenha a Grã-Bretanha branca.”
Tempos depois, pediu desculpas, disse que seus amigos e ídolos eram pretos, e que estava fora de si, devido ao abuso de drogas e álcool.
Quarenta anos depois, criticou o lockdown imposto pela OMS a países que vinham enfrentando dificuldades com a pandemia da COVID-19. Declarações negacionistas o levaram a compor em parceria com Van Morrison uma música com frases como “você quer ser um homem livre ou um escravo?”, que comparam o respeito aos protocolos de saúde à escravidão.
Eric, recentemente em um momento de clareza das ideias, criticou o revide desproporcional de Israel aos palestinos e chegou a arrecadar fundos para a população em Gaza.
Kanye West tóxico
Kanye West, após revitalizar e remodelar o rap com uma sequência de ótimos discos, perdeu a compostura e passou a ter atitudes comprometedoras e constrangedoras. Apoiou Donald Trump, disse que a escravidão nos EUA foi uma escolha dos negros, usou camisetas com a frase “Vidas Brancas Importam” e disse que foi maior que Picasso.
Se já não bastasse, brigou com Taylor Swift, Jay-Z e Beyoncé. Teve um relacionamento conturbado e tóxico com Kim Kardashian, onde acabou ocorrendo o divórcio, acusações de ambos os lados, quatro filhos e um documentário sobre o caso.
Estes quatro foram algumas personalidades do rock e do show business que, ao mesmo tempo em que são considerados gênios e mestres no que fazem, cometem deslizes ou erros morais irreparáveis. O mesmo serve para Rodriguinho, referência no samba e pagode nacional.
Em um mundo midiático e com um bombardeio de informações de todos os lados, juízes da moral alheia de plantão, fica difícil seguir o ditado, “Não conheça seus ídolos”. Resta tentarmos separar ao máximo a obra do autor. Mas quem consegue?
