O funk dos rincões da zona leste preso 24 horas em cadeia nacional
MC Bin Laden foi anunciado como integrante da edição 24 do BBB, mas, não adianta dizer que você nunca ouviu pelo menos uma música do MC Bin Laden. Tá Tranquilo, Tá Favorável virou hit nacional em 2015, em uma época em que o funk paulista, graças aos MCs da Baixada Santista, popularizaram o estilo de música brasileiro mais famoso no mundo depois da Bossa Nova.
Jefferson Cristian Dos Santos De Lima é um dos artistas do funk com maior aceitação e respeito no mercado mundial. Desde os primeiros lançamentos em 2014 e 2015, DJs, críticos e especialistas de música olham e apontam Bin Laden como a personificação do funk brasileiro misturado a vários estilos, como o Afrobeat, Miami Bass, industrial, rumba, dance hall e até rock.
Eleito o álbum do ano em 2017 por diversos canais da mídia especializada internacional com o EP Mil Grau. Além de resenhado pela Rolling Stone americana, ganhou uma página inteira na bíblia da música independente, a Pitchfork, sendo muito bem avaliado, já que o site pega pesado com vários artistas, independente do tamanho. Fez parceria com Diplo, um dos responsáveis por popularizar o funk brasileiro mundo afora, e lançou em 2023, uma das melhores músicas em um feat com a banda virtual Gorillaz, de Damon Albarn, na canção Controllah.
Funk é a síntese do Brasil desconexo
O funk é o novo punk! Veio dos jovens da periferia e dos excluídos socialmente. Narra com propriedade o dia a dia periférico e entrou na cabeça da molecada, a qual é a base e o alvo de sucesso da música. Quer fazer sucesso? Fale a língua das crianças e do jovem, seja rebelde e transgressor.
O Rap denunciava todas as dificuldades vividas pelos pretos e pobres periféricos, mas o modo sisudo dificultou a entrada nos ouvidos do público branco e de elite. O Funk não. Foi uma música que falava também das mazelas ao mesmo tempo em que explora abertamente o tema sexo. Se nos anos 90 falava-se de um modo leve, nos anos 2000, escancarou a putaria.
O escancarando a putaria não é pejorativo. Todo ser humano gosta do tema, independente das predileções, gêneros, a quatro paredes, no carro, na rua, boate, onde for e afins. E quando acompanhado a um ritmo empolgante, com batidas que ativam a adrenalina da pessoa que escuta e não deixa literalmente ninguém imune a música, quer você goste ou não, não passa despercebido.
O Brasil é o país das coisas escondidas, mas o funk veio para tirar a máscara, o véu, as amarras da hipocrisia, e igualar por alguns momentos todas as classes.
MC vigiado
Bin Laden fará parte do BBB, um programa que constrói e destrói reputações, basta ver o que rolou nas últimas cinco edições. Mas, ao mesmo tempo, jogará holofotes no Jefferson e irá mostrar parte da personalidade do funkeiro paulista. O programa será o lugar perfeito para o MC mostrar tudo o que relata em suas músicas.
Esta foi a hora certa para fazer um editorial do MC Bin Laden, pois reconheço nele e no funk, uma qualidade musical absurda, que, se é vista com preconceitos por uma parte que se julga muito intelectual para ouvir, é aclamada pelo povo, pelo mundo e pelos enrustidos morais.
Tá bom, gosto do BBB, assisto e já tenho meu preferido.
