The Mars Volta en Chile.(Foto: DG Medios / Jaime Valenzuela)

Mars Volta é a resposta

Tempo de leitura: 8 min

Comemorando vinte anos do primeiro disco, a banda traz um show nostálgico para os palcos brasileiros.

Mars Volta estará em terras paulistas no dia 04/06/23, pela terceira vez (2004,2010 e 2023), dentro do lineup do Mita Festival. Trazendo seu rock progressivo, meio noise, com pitadas de latinidades e muito experimentalismo, a banda comemora os 20 anos de seu primeiro e aclamado disco, De-loused in the Comatoriun, em um show que trará estranheza aos desavisados, e alegria aos fãs tupiniquins

Estranheza que os cariocas já puderam sentir no show realizado no dia 28/05, dentro do mesmo festival, acompanhado por pouco mais de 500 pessoas na plateia, em uma breve contagem visual, pois vi pela TV, o qual é o melhor lugar para se estar hoje assistindo shows em festivais.

A banda trouxe ao palco um show com o setlist baseado nos dois primeiros discos (De-loused in the Comatoriun e Frances The Mute) e apenas uma música do último álbum, lançado em 2022. Em uma apresentação com pouco mais de 50 minutos, e com uma banda competente acompanhando os líderes e alicerces, Omar e Cedric, o Mars Volta mostrou aos mais avisados e atentos, um show enraizado na boa execução técnica e com boa dose de experimentalismo, ou seja, progressivo.

DG Medios / Foto por Jaime Valenzuela. Mars Volta em apresentação no Chile

Isso não é um demérito, mas talvez um sinal do tempo, pois quem viu as apresentações caóticas da banda há 19 e 13 anos, onde os integrantes realizavam movimentos pirotécnicos com os instrumentos, sem perder o “tom”, notou que daquela época, restaram a boa técnica de Omar, e as dancinhas meio MC5 de Cedric. E faz parte, o tempo passa, o tempo voa, e o Mars Volta continua sendo uma banda boa (ótima).

Provavelmente em SP o show contará com um pouco mais de pessoas na plateia — assim espero — e quem sabe, fará Cedric mais alegre, pois no Rio, ele ficou decepcionado pela pouca audiência. Ainda assim, reverenciou quem estava ali, dizendo que o show seria feito com muito amor para aquelas pessoas que ali estavam.

Apresentação Mars Volta no Chile, por canal Rockrockrock no youtube

Uma experiência

O Mita é um festival cujo objetivo é unir artistas não convencionais, com artistas mais pop, reverenciando o velho e o novo, com o slogan de “A música é a resposta”, em inglês, é claro, para ser mais cool. O mesmo modus operandi de levar medalhões para chamar público, é utilizado também no festival. Talvez só assim para vermos Mars Volta no Brasil, pois todas as outras apresentações por aqui, seguiram esse roteiro.

A experiência que o festival diz trazer, fica a cargo mesmo da chance quase única de se ver um show quase único, não convencional, sem clichês de mãozinhas para cima, celulares ligados, refrõezinhos recheados de ôôôôô ôôôôô ôôôôô, pois quem vê o Mars Volta, dificilmente esquece.

Canções em compassos quebrados, afinações estranhas, instrumentos não convencionais, apresentações de palco arrasadoras, execuções perfeitas e músicas com mais de 08 minutos de duração, emendando umas às outras. Não há espaços para playbacks, autotunes e conversinha fiada com a plateia.

Omar e Cedric, as cabeças do Mars Volta. Foto por Clemente Ruiz

Não é difícil notar pessoas em transe durante algumas músicas, como se estivessem em uma festa estranha com gente esquisita, dançando e sentindo a música dentro de você. 

A filmagem do Multishow focava várias pessoas nesse estado, e posso dizer, que não estavam se fazendo. Eu conferi a banda em 2004 no finado TIM FESTIVAL, na primeira vez que a banda veio para o Brasil, em um show caótico, que naquele momento, me senti no olho do furacão. Quando acabou a apresentação, demorei pelo menos uma hora para me restabelecer.

De-loused in the Comatoriun 20 anos depois

O Mars Volta surgiu no ano de 2001, tendo o núcleo Omar Rodriguez-Lopez (guitarra, produtor, direção) e Cedric Bixler-Zavala (vocal, letras), dois integrantes do quinteto At the Drive-in, banda super importante dos anos 90, da cena punk, post-harcore, do Texas. Cena que fervilhava com várias bandas aparecendo e fazendo som e shows catárticos como o And You Will Know Us by the Trail of Dead e várias outras.

Após o sucesso do disco Relationship of Command, do At the Drive-in, Omar e Cedric, decidiram criar um grupo para ampliar seus horizontes musicais, e transbordar todas as suas múltiplas influências nas composições.

Mars Volta em 2003 ainda com Eva tocando baixo na banda

Omar, um porto-riquenho, radicado nos EUA, com Cedric, americano, mas de pais mexicanos, criaram o Mars Volta com o Isaiah “Ikey” Owens (teclados), Jon Theodore (bateria e atual QOSTA), Jeremy Ward (manipulação de sons) e Eva Gardner (baixo), e lançaram um EP intitulado Tremulant, em 2002.

Mas em 2003 a banda começa a criar corpo e lançam o já considerado clássico, De-loused in the Comatoriun, que completa agora em 2023, vinte anos. Com a produção do aclamado Rick Rubin junto ao Omar, o Mars Volta teve na sua formação a mesma base de início, simplesmente com Flea (RHCP) no lugar de Eva Gardner.

Capa do disco De-loused in the Comatoriun de 2003

Ainda fizeram parte, Lenny Castro na percussão, Justin Meldal-Johnsen no baixo de Televators, e John Frusciante (RHCP) tocando guitarra e sintetizador em Cicatriz-esp. Gravado nos estúdios The Mansion, de propriedade de Rick Rubin e situado no icônico bairro Laurel Canyon, em Hollywood, o local que já pertenceu ao mágico Houdini, e com várias histórias horripilantes, teve gravações de discos clássicos do rock, que vão de Red Hot, Guns N’ Roses, Slipknot a Lorde a Jay-Z.

O primeiro disco conceitual da banda entre vários, conta a história de Cerpin Taxt, personagem fictício, que abusa de todo tipo de droga possível e que entra em coma de uma semana após uma overdose de morfina e veneno de rato. É inspirado na morte de Julio Venegas em 1996, amigo de Cedric. Uma curiosidade é que um mês antes do lançamento, Jeremy Ward, integrante do Mars Volta, morreu de overdose de heroína.

Mars Volta em 2003 no Coachella

Com letras surreais, realizando jogo de palavras, o disco explora as referências latinas da dupla Omar-Cedric, fazendo referências musicais ao Free Jazz e rock progressivo. Foi citado em alguns momentos, um encontro do King Crimson, com Fugazi e Miles Davis, o que olhando hoje faz todo sentido. A capa foi criada pelo Storm Thorgerson dos estúdios Hipgnosis, responsáveis por capas do Pink Floyd, ACDC, Led Zeppelin e outras bandas.

De-loused in the Comatorium foi o álbum mais bem-sucedido comercialmente do Mars Volta, e aclamado pela crítica especializada. Depois dele a banda lançou Frances the Mute (2005), Amputechture (2006–2007), The Bedlam in Goliath (2008), Octahedron (2009–2010), Noctourniquet (2011–2012) e o autointitulado Mars Volta em 2022.

Mars Volta mostra que é possível não seguir padrões na arte, e que música boa é para sempre. Uma apresentação ao vivo da banda não é simplesmente um show, é uma experiência única. Aproveitem enquanto dá.

Imagem em destaque por The Mars Volta en Chile.(Foto: DG Medios / Jaime Valenzuela)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Scroll to top