MAN ON MAN

It’s So Fun (To be Gay)

Tempo de leitura: 12 min

É desta forma que a banda MAN ON MAN (em maiúsculo mesmo) retrata em suas letras e músicas o verdadeiro orgulho gay, sendo direto nas abordagens, temáticas, e na mensagem passada. Não há espaço para entrelinhas, e nem tempo para perder escondendo o que eles são.

O MAN ON MAN é mais um dos projetos de Roddy Bottum, que se você não conhece, vai saber um pouco mais em breve. Formado em 2020, no auge da pandemia do COVID-19, em total parceria com Joey Holman, pois além de terem a banda juntos, são namorados, o duo faz um som carregado de todas as influências de seus dois líderes; rock, indie rock, punk, dance rock, com alguns traços de metal, e que a mídia intitulou de Queer Rock.

Roddy e Joey – MAN ON MAN

Com dois discos lançados, o autointitulado MAN ON MAN de 2021, e o mais recente Provincetown de 2023, a banda emula um rock de qualidade, com uma certa pegada pop, e com muita chance de ter vários hits em rádios, se não fosse claro, o preconceito. 

Muitas das resenhas dos dois discos vêm de sites alternativos. Uma reportagem na Rolling Stone sobre a banda, um release na Kerrang sobre o primeiro disco, são os poucos veículos “mainstream” que falam algo sobre o duo. Não há menção ao trabalho deles, por exemplo, na Spin, na Uncut e até mesmo na Pitchfork, que resenha todo mundo, procura lá, por exemplo, MC Bin Laden (gostamos do Bin Laden antes de mais nada). Uma apresentação de mais de um ano da banda no canal da KEXP, tem um pouco mais de 27 mil visualizações e 692 likes. Pouco, comparado a outros.

MAN ON MAN – Full Performance (Live on KEXP at Home)

Algoritmo homofóbico

O suposto “boicote” da grande mídia e o baixo engajamento pode ser explicado pelas restrições (ou censura?) que as redes sociais fazem com o MAN ON MAN.

O clipe do single Daddy, que mostrava o casal de cuecas fazendo uma brincadeirinha gostosa, foi banido do YouTube. Após a revista Rolling Stone noticiar o fato, a plataforma voltou a veicular o vídeo e emitiu um pedido de desculpas.

MAN ON MAN – Clipe da música Daddy

O mesmo ocorreu com o Instagram, que proibiu em muitos momentos as fotos de divulgação da dupla, quase sempre em roupas íntimas.

Em uma entrevista ao site Metro Weekly em 2022, Joey fala um pouco desse preconceito algorítmico.

Como somos centrados no queer e nosso nome é Man On Man, e mostramos roupas íntimas em nossas fotos, o Instagram e o YouTube não aprovam esses anúncios”. “E agora [esses sites] estão em um ponto em que nem mesmo permitem que as pessoas publiquem anúncios para pessoas queer. Não há nada que você possa fazer para atingir pessoas queer. Se você é queer, isso será considerado inapropriado.

Joey Holman

O católico, metaleiro e gay, Roddy

Roswell Christopher Bottum, nascido na década de 60, vindo de uma família católica, com um pai promotor federal, virou Roddy Bottum em 1980, fundando o Faith no More com os amigos Billy Gould e Mike Bordin. Namorou a Courtney Love (sim, ela mesma), tornou-se rockstar na década de 90, quando a banda já tinha Mike Patton nos vocais, e viveu o auge do rock com os excessos que a fama traz, com fama e o vício em heroína.

Assumiu a homossexualidade em 1993, formou na primeira metade da década de 90 outro projeto respeitado, Imperial Teen, que desgarrava do som pesado de sua banda principal, indo para o lado mais pop. Em 1998 sai do Faith no More, retornando em 2009, permanecendo até hoje.

Em 2019, ainda antes da pandemia, Joey abordou Roddy em Nova York, para elogiar um método de gravação de um disco do Imperial Teen, dizendo querer fazer igual. Poucos dias depois os dois se encontraram novamente no show de uma de suas bandas, o Nasty Band, e a partir dali, engataram um romance, montaram uma nova banda e estão juntos com dois ótimos discos.

O álbum MAN ON MAN, 2021

Forçados a ficarem em quarentena no auge da Covid, Joey e Roddy, ambos morando em Nova York, foram para a Califórnia acompanhar o processo de doença da mãe de Roddy. No meio da viagem, decidiram formar a banda e passar os possíveis dias, que viraram meses, compondo e gravando.

Incertezas com o mundo, a sobrevivência do ser humano, as temáticas gays e mais os traumas familiares, pois ambos viram o falecimento de suas mães, foram combustíveis para um disco com composições e afirmações fortes.

Como o disco é uma cápsula do tempo e uma reflexão sobre o que todos estávamos passando como comunidade, acho que tivemos, principalmente no sequenciamento do disco, a deixá-lo seguir o curso da escrita e o curso da história que aconteceu. Quando começamos com o COVID, nenhum de nós sabia o que estava acontecendo. Conforme as coisas afundavam e começamos a perceber com o que estávamos lidando, a merda ficou muito séria, muito rápido. Isso definitivamente mexeu com nossa composição naquele ponto. Como dissemos anteriormente, o disco é um reflexo do tempo e do que aconteceu.

Declaração de Roddy, ao Jornal Bay Area Reporter

A primeira música, Stohner, um rock pesadíssimo, meio shoegaze, meio Mogwai, mostra como a banda estava entrando e sobrevivendo na quarentena. Daddy complementa os momentos vividos na quarentena, mas de uma forma apimentada. Roddy mostra nessa música, seus dotes como ótimo tecladista, assim como também na faixa 1983.

MAN ON MAN – Stohner [OFFICIAL MUSIC VIDEO]

Baby, You’re my everything e Lover são duas faixas que contam mais um pouco da intimidade do casal. It’s So fun (to be gay) é a música composta para ser um hino inclusivo, e termina com uma sequência mais melancólica em Kamikaze e It Floated.

Avaliação: 4 de 5.

Provincetown, 2023

Já que o primeiro disco foi gravado em São Francisco, Califórnia, o segundo foi realizado na cidade que dá nome ao título do disco. Provincetown fica em Cape Cod, o lado litorâneo de Boston, e é mundialmente conhecida como uma Meca Gay, historicamente desde 1930. Hoje muitos casais LGBTQIA + vão passar férias, ou se mudam para o local, devido à alta hospitalidade e respeito à diversidade.

Novamente com 10 músicas, as guitarras aparecem e gritam mais nesse disco, da mesma forma que o lado dançante. Muito mais otimista, irônico e menos denso, a sequência das 10 músicas segue uma linearidade e vão contando como é viver em um lugar que o respeito é a base, e como gostariam que fosse a regra no mundo.

  • MAN ON MAN

Há dicas de como as pessoas devem respeitar e agir com os termos gays, incluindo o público gay mais velho, que não estavam acostumados a se relacionar com as questões de identidade de gênero, mas que para os mais jovens, hoje, são afirmações fundamentais.

Posso dizer: tire um minuto para entender os pronomes / tire um minuto para ouvir as crianças.

Trecho da letra de Kids

O lado cômico de Piggy, que fala sobre os aplicativos de namoro destinados ao público queer, como Grindr e Scruff, famosos por sua infinidade de perfis sem rosto. A música fala de uma descrição da própria pessoa gay, querendo ter relações, mas sem a coragem de assumir quem você realmente é.

Você tem que primeiro amar você se quiser me foder’. O amor-próprio de uma maneira real é sexy como o inferno, e uma parte disso é mostrar seu rosto.

Trecho da letra de Piggy

Sem falar no clipe da música Showgirls, um dance-punk a la Le Tigre, com vários rockeiros grandes, caras de macho, viril, executando vários moshs. O vídeo é filmado em preto e branco, mas quando as cores invadem as imagens, todos se abraçam, beijam e o amor rola solto. Essa é a tônica do disco e do MAN ON MAN.

MAN ON MAN – Showgirls [OFFICIAL MUSIC VIDEO]

Para finalizar em grande estilo, o álbum termina em um feat com J. Mascis do Dinosaur Jr., na pesada Hush.

A banda começa em julho uma turnê pelos EUA na companhia do Le Tigre, outra banda que detém dos mesmos ideais.

O MAN ON MAN não veio para incomodar, mas sim, para afirmar quem são.

Avaliação: 4 de 5.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Scroll to top