Artistas, público, organizadores não há quem estivesse ansioso por um grande evento de rock em Joinville após o hiato causado pela pandemia. O evento Desgraça Pouca é Bobagem que ocorreu no último dia 26/03, trouxe a Joinville as bandas locais de Heavy Metal Zoombie Cookbook e Battalion e a Curitibana Repudiyo, na Yelo Stage.
A banda Repudiyo, mandou um som mais pesado, uma pegada trash com grind e posicionamento político aflorado. Sim, não foi só no Lollapalooza que o “Fora Bolsonaro” era o grito mais hypado do momento. Aqui também foi entoado por diversas vezes, e talvez para o meu espanto, bem recebido pelo público. Já as bandas locais Zoombie Cookbook e Battalion, fizeram bons shows, no melhor estilo Heavy Tradicional, que foi base pra desenferrujar depois de tanto tempo em lockdown.



Bandas do eixo Rio-São Paulo e nomes importantes do cenário Underground Nacional, foram os headliners da noite, fazendo jus ao destaque dado pela produção do evento. Uma delas, veterana com mais de 30 anos de estrada, com um estilo todo próprio. A outra já com mais de 01 década e virando referência, fazendo nome e história no som extremo-experimental nacional.
Começamos pelo duo paulistano da Test, uma banda com 12 anos de formação, que já percorreu quase todo o país no melhor estilo Do It Yourself, tocando onde dão espaço. Os primeiros shows da Test ficaram famosos, pois a banda ia de Kombi — por isso o pseudônimo do guitarrista da banda do Test é, João Kombi —, para portas de shows mainstream em estádios, montavam toda a aparelhagem, e faziam ali mesmo o som. Conversando com o baterista Barata, ele relata a saudade de voltar a fazer este tipo de show em SP, visto que em outros estados os shows são em festivais, bares e casas noturnas. Com um grind sujo e experimental, bem tocado, com instrumentos únicos e vocais gritados, a banda foi destaque da noite, arrancando aplausos, queixos caídos, e comentários da plateia sobre o quanto os caras são criativos. E são apenas dois em cima do palco.
Entrevista com o Barata do TEST na seção de ENTREVISTAS.

Já a outra banda são os cariocas do Gangrena Gasosa, com seu Saravá Metal muito bem-feito, divertido, letras que te colocam dentro do universo das religiões de matrizes africanas, como o Candomblé e a Umbanda, misturando o protesto e o sarcasmo carioca. O Gangrena não só entrega a qualidade sonora, mas também toda a performance teatral, onde os integrantes se vestem como entidades das religiões e executam um rock calcado no Trash Metal, Crossover e letras em português. Temos o Zé Pelintra e o Omulú nos Vocais (Ângelo e Davi), o Exu Caveira na guitarra (Murakami), o Tranca Rua no baixo (Diego Padilha), o Exu Tiriri na batera (Alex Porto), e a Pomba gira na percussão (Gê Vasconcelos) imprimindo o batuque dos terreiros.

Com um show competente, calcado em todos os clássicos da banda e nos últimos trabalhos, como o disco lançado em 2018, intitulado “Gente Ruim Só Manda Lembrança Pra Quem Não Presta”, e músicas do EP Kizila, lançado em 2020, a plateia pulou, abriu roda e cantou músicas como “Encosto”, “Eu não Entendi Matrix” e “Se Deus é 10, Satanás é 666”. Lógico que ocorreram alguns percalços no meio do caminho como falhas aqui e acolá nos equipamentos da casa, mas quem está na caminhada underground, sabe que isso pode vir a ocorrer, porém o show foi entregue, o público aplaudiu, e saíram felizes, e com muita farinha de despacho no corpo. Sim, isso também faz parte do show.
Entrevista com o Ângelo e Davi do GANGRENA GASOSA na seção de ENTREVISTAS.