A noite que mudou o pop

A Noite Que Mudou o Pop

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Ah, como seria bom se os artistas brasileiros tivessem a mesma coragem de expor quem realmente são, como fazem os gringos. O documentário “A noite que mudou o pop”, que estreou na Netflix nesta semana, 29 de janeiro de 2024, ao mesmo tempo que mostra a genialidade de vários artistas, revela o ego, alienação, arrogância e insegurança de astros consagrados da música americana.

A Noite que Mudou o Pop
A Noite que Mudou o Pop

Inspirado pelo evento Live Aid, festival organizado por Bob Geldof, que arrecadou  cerca de 150 milhões de libras a fim de acabar com a fome na Etiópia, fez Harry Belafonte – músico e ativista – ligar para o empresário Ken Kragen, e questionar: “Você viu que artistas brancos estão salvando vidas negras? Quando é que artistas negros vão salvar vidas negras?”

Decidiram então gravar uma música reunindo os principais artistas afro-americanos e lançá-la como single para angariar fundos com o mesmo intuito. Este é o enredo principal que conduz a criação do clássico “We Are The World”, e que marcou os anos 80.

Deixe seu ego na porta

Quincy Jones seria o capitão, maestro e produtor e, junto ao empresário, Ken Kragen, iniciaram os contatos e planejamento de como colocar em prática o projeto. 

Ficou acertado que a composição ficaria a cargo do genial Michael Jackson e Lionel Richie, e a nata dos astros pop fariam parte cantando frases da música, coro e backing vocals. Para citar alguns; Stevie Wonder, Ray Charles, Diana Ross, Dionne Warwick e os branquelos Willie Nelson, Bob Dylan, Bruce Springsteen, Cindy Lauper e tantos outros (veja a lista completa aqui).

Todos se reuniram em uma noite, no caso, a noite de entrega do American Music Awards, em 28 de Janeiro de 1985. Bob Geldof foi chamado para dar uma mini palestra sobre a importância de estarem ali, naquele momento, e para quem eles deveriam cantar, e, nada, nada poderia falhar. 

Os dias que antecederam e os bastidores da gravação são mostrados para nós, pobres mortais, com uma profundidade de verdade que, o que antes dava vergonha de ouvir, hoje, “We Are The World” mostra o quanto é uma excelente música.

Bob Dylan e Bruce Springsteen - Foto por Harry Benson
Bob Dylan e Bruce Springsteen – Foto por Harry Benson

Em quase duas horas, vemos a liderança de Lionel Richie, a segurança de Michael Jackson, a alegria de Stevie Wonder e Ray Charles, a alienação de Waylon Jennings que nem sabia porque estava ali, o porre de Al Jarreau, excentricidades de Cindy Lauper, a firmeza de Bruce, a esnobada do Prince, sendo Prince, e o melhor de tudo, a insegurança de um dos maiores gênios da música, Bob Dylan.

Dylan sabia que estava no meio de ótimos cantores, e a parte vocal é o que menos chama atenção em sua obra. Quando Quincy fala que no coro, artistas que sabem de sua limitação vocal, devem não atrapalhar, o foco da câmera vai direto para Dylan. 

Mas ao mesmo tempo, Quincy sabe que teria que aproveitar de alguma forma o talento de Bob, e em um gesto supremo, Stevie Wonder simplesmente ensina ao Bob Dylan, como ele deveria cantar seu solo.

Não vou dar mais spoiler, assista!

Dica para artistas nacionais

Em um paralelo com as produções nacionais, poucos artistas do cancioneiro tupiniquim tiveram a coragem de serem retratados como são. Tim Maia no longa-metragem inspirado no livro de Nelson Motta, Raul Seixas no completo documentário, “O início, o fim e o meio” de Walter Carvalho, e o também documentário da banda Ratos de Porão, “Guidable

Na mais, retratos constrangedores apresentados, como o caso do longa sobre a vida de Gal Costa, reforça a máscara que artistas nacionais gostam de usar para esconder o passado.

Herói brasileiro

O filme não mostra, mas é muito bom salientar que, dentre os músicos que fizeram parte da instrumentação da música, está o músico brasileiro Paulinho da Costa.

Paulinho da Costa é um dos maiores percussionistas do mundo, senão o maior, e gravou somente com Dizzy Gillespie, Joe Pass e Milt Jackson, Earth, Wind and Fire, Donna Summer, Tavares, Michael Jackson, Madonna, Rod Stewart, Lionel Richie, Gloria Gaynor, Eric Clapton, Elton John e milhares de outros artistas, inclusive nacionais como Sérgio Mendes e Jorge Ben.

Paulinho da Costa
Paulinho da Costa

Off The Wall, Thriller e todos os outros discos do Michael, ele está lá. “La isla bonita” da Madonna, ele está lá. Purple Rain, ele também está lá. Gravou até com o Offspring.

Fenômeno

O single lançado em, 07 de março de 1985, alcançou a marca de vinte milhões de cópias vendidas do compacto simples de “We are the World”, e, mais de 50 milhões de dólares arrecadados com a venda do disco e produtos licenciados. A música atingiu o topo das paradas de todo o mundo por semanas.

O dinheiro serviu para ajudar principalmente na alimentação e saúde de vários países africanos, e a iniciativa gerou vários projetos de artistas das mais variadas vertentes.

“The Greatest Night in Pop” ou “A noite que mudou o pop” foi dirigido por Bao Nguyen e está disponível na Netflix. Ao assistirem, tenho certeza de que o preconceito com a música vai acabar, e você vai voltar a ouvir como se fosse a primeira vez.

The Greatest Night in Pop | Official Trailer | Netflix

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