Documentário do Netflix mostra a genialidade e o egocentrismo de George Michael
A Netflix estreou, há duas semanas, o documentário do duo pop britânico mais famoso do mundo, nos anos 80, claro, e revelou o talentoso Georgios Kyriacos Panayiotou. Estamos falando do grupo britânico Wham! liderado por Andrew Ridgeley e o menino grego, George Michael.
Narrado por Andrew e George, em off, a partir de várias entrevistas que ambos fizeram durante anos a fio, o filme conta a trajetória da amizade entre os dois, que se conheceram crianças no bairro e na escola, tornando-se adolescentes, descobrindo novos mundos, horizontes e possibilidades artísticas, facetas musicais e liberações sexuais.
Wham foi exatamente isso! Adolescência de dois artistas que procuraram aproveitar o máximo da vida naquele momento, sendo destemidos, e quando a maturidade os encontram, tomam rumos distintos.
Meninos destemidos
A narrativa é em cima do diário de fotos que a mãe de Andrew registrou desde os primórdios da carreira do Wham. Está lá, o início dos dois em um grupo de Ska-punk, no final da década de 70, até os primeiros ensaios entre os dois no quarto de Andrew, misturando funk, música Disco, Queen, Elton John e música eletrônica.
No começo Andrew ficava com a parte melódica, e George com as letras e o excelente vocal, que já aparecia desde menino. Podemos falar no começo, porque George, um workaholic feroz atrás de sucesso, desenvolveu com o tempo um talento invejável para compor ótimas músicas e aperfeiçoar cada vez mais seu lado frontman.
Começaram com Disco-rap, em um single com duas músicas, fazendo um barulhinho na cena inglesa. Batalharam um contrato com uma gravadora, tocando em vários clubes noturnos da Inglaterra, mas ainda distantes daquilo que seria a libertação total, a fama.
George e sua afirmação
Logo no começo do filme, você descobre de onde veio o nome Wham! ou os primeiros acordes de uma das músicas mais famosas de todos os tempos — Careless Whisper — e que virou um meme famoso recente, além do talento duvidoso para a moda que George tinha, com os shortinhos e roupas de praia que utilizavam para se apresentar, além da descoberta e da luta que George tinha para assumir a sua sexualidade.
Aliás, a sexualidade foi algo que o deixava desconfortável, pois o medo de “atrapalhar” a carreira e perder a popularidade era grande, mas não maior do que o medo de decepcionar seu pai. George sempre foi um homem muito bonito, exalava sexualidade, e o apelo com o público feminino era muito grande, mas seu amigo Andrew, nunca colocou obstáculo na possibilidade de George assumir ou não seu lado gay.
Outro ponto que talvez não soubéssemos, era a obsessão pelo sucesso que George tinha. Com o tempo ele domina todo o processo de composição da dupla, passando a compor, arranjar e produzir o próprio trabalho.
Seu ego era tão grande, que um de seus sonhos, era ter quatro hits durante um ano. Só não conseguiu, porque a música de Natal que ele compôs, Last Christmas, ficou em segundo lugar, perdendo para o também hit natalino, Do They Know its Christmas, composta por Bob Geldof para o Live Aid, e gravada por vários artistas, como Bowie, Bono vox, inclusive, George Michael.
Um ego em busca do sucesso
Com vários hits na Europa, e um mega hit, Wake Me Up Before You Go-Go, do segundo disco, Make It Big, de 1984, chegam então ao tão almejado primeiro lugar nas principais paradas mundo afora.
Para Andrew, era notório que o Wham! Não duraria muito, pois George trilhava o caminho em ser um astro pop. Pensando na carreira solo e no mercado americano, ele rearranjou Careless Whisper, transformando a música em uma canção romântica, e a lançou com um single em seu nome, algo como, Wham! apresenta George Michael.
Uma curiosidade, é que quando decidiu lançar Careless Whisper, George viajou para os EUA atrás de um som mais R&B, e contratou nada mais que Jerry Wexler, o lendário produtor que trabalhou com Aretha Franklin e Ray Charles. Gravaram a música no também lendário estúdio Muscle Shoals Sound Studio, com músicos históricos, e saiu de lá frustrado. Voltou para a Inglaterra, refez a música, e testou nada mais do que nove saxofonistas, para chegar no resultado que tanto conhecemos, e que marcou a sua carreira.
Sucesso na Europa, China e EUA
Já super astros na Europa, faltava atingir de vez o mercado americano. Mas antes, mudaram de empresário, fazendo parte do cast de Simon Napier-Bell, famoso por trabalhar com Yardbirds, Marc Bolan, The Who. Simon arranjou para o grupo uma engenhosa turnê na China, chamando atenção do mundo todo, pois seria a primeira vez que um grupo pop ocidental se apresentaria em terras “comunistas”.
Lógico que os EUA ficaram de olho, e pós-turnê chinesa, marcaram uma série de shows em estádios e ginásios americanos, cravando de vez o nome na história do pop mundial. Vale frisar que nessa época, havia uma disputa somente com nomes como Michael Jackson, Madonna e muitos outros astros pop.
Após quatro discos lançados, um por ano, de 82 a 86, eles decidem pela separação e fazem alguns shows de despedida, encerrando em grande estilo com um grande concerto no estádio de Wembley.
Daí em diante, George Michael de fato tornou-se um astro pop, com várias músicas atingindo o topo das paradas. Já Andrew, lançou alguns trabalhos de menor expressão, virou até piloto de fórmula 3, mas nunca alcançou o feito de seu amigo de infância, que segundo ele, nunca foi algo que o atormentasse.
Documentário e nostalgia
Com um acervo impressionante de imagens de arquivos, desde a dupla tocando em bares no final da década de 70, baladas em clubes noturnos de Londres, onde mostra George Michael, adolescente dançando em meio a várias pessoas, antes da fama, até cenas de gravações em estúdios e shows, o longa produzido por Chris Smith nos leva para os anos 80, exalando nostalgia.
Vale muito assistir esse documentário contando a trajetória meteórica do Wham! e emendar na sequência com Freedom, que mostra o sucesso, polêmicas e várias histórias da carreira de George Michael, até os seus últimos dias.
