Plastic Eternity foi o décimo primeiro álbum lançado pelo Mudhoney, em 07 de abril nas plataformas digitais, e com mídia física pelo selo e gravadora SUB POP, tão lendária quanto a banda, que carregam ambos o nome de Seattle para o mundo, junto a tantas outras bandas mainstream ou não, como Nirvana, Soundgarden, TAD, Screaming Trees e a co-irmã Pearl Jam.
Co-irmã porque de 84 a 87, existiu o Green River, uma banda formada com os integrantes do Mudhoney Mark Arm e Steve Turner junto com Jeff Ament e Stone Gossard do Pearl Jam. Procurem saber.
O Pearl Jam virou um “empreendimento”, e o Mudhoney ficou com o status de a banda referência do estilo grunge. Não que os integrantes não quisessem pelo menos um pouco da fatia desse empreendimento, pois assim viveriam somente da banda, e reconhecimento não enche barriga – Mark Arm é gerente da Sub Pop e Guy Maddison é enfermeiro – nesse mundo capitalista e plástico que vivemos hoje.
Plastic Eternity
As composições começaram de uma forma lenta ainda na pandemia e se intensificaram no período pós pandêmico, com o atraso forçado da mudança de país do baixista Guy, que iria morar em sua terra natal, a Austrália, rendendo tempo para a banda trabalhar nas melodias, que ficou a cargo dos integrantes Steve Turner (guitarra), Dan Peters (bateria) e Guy Maddison (baixista). Já as letras, ficaram sob a tutela de Mark Arm (vocal e guitarra).

Carregado por várias situações políticas que os EUA vinham passando, como a era Trump, negacionismo, visão de futuro, mundo fútil, consumismo desenfreado, sobrevivência humana e os traumas que a Covid deixariam em todos, não teria como estes assuntos e sentimentos não refletirem nas letras.
Gravado em Seattle, nos estúdios Crackle & Pop! e com produção de Johnny Sangster, que vinha trabalhando nos últimos discos da banda, Plastic Eternity carrega o som característico do Mudhoney, com bastante fuzz, wah wah, um certo ar punk e psicodelia misturado em alguma das faixas, adições de órgãos Farfisa, percussão e violão.
Faixa a faixa
Souvenir of My Trip – A música mais Mudhoney do álbum. Uma letra viajandona do Mark, seu vocal único, e com o Farfisa aqui dando o ar da graça.
Almost Everything – Adoro a percussão inicial e que se prolonga pela música. Foi o primeiro single do disco com um clipe bem legal.
Cascades of Crap – Olha, posso estar viajando, mas a linha de baixo me lembrou Mr Catra, na clássica Adultério, que sampleou Tédio do Biquini Cavadão. É viagem mesmo, mas vai saber se o Guy não ficou com essa música na cabeça nas muitas vezes que veio com o Mudhoney no Brasil.
Flush the Fascists – Aqui Mark Arm vai soltando frases, meio Spoken Words, dizendo Dane-se o apaziguamento e elimine os fascistas.
Move Under – Mais um som característico a lá Mudhoney, com ótimo solo inicial de Turner, bateria marcada e precisa de Peters, um baixo certeiro de Guy.
Severed Dreams in the Sleeper Cell – Se entendi, tem a ver o quanto ficamos presos no celular, apenas sob o efeito dele, sem nem sequer conseguir sonhar como antigamente. Mark Arm solta aqui seus berros acompanhado por um órgão marcante.
Here Comes the Flood – rock certeiro, com destaque para linha de baixo do Guy, algo que me chamou bastante atenção em várias músicas. Uma letra que fala de como nos igualamos aos animais na forma de tratar do ser humano na pandemia.
Human Stock Capital – Punk grunge na medida, com uma das letras mais diretas do disco. “Capital humano / Essencial significa dispensável / Eles vão trabalhar até você cair / Você é apenas capital humano / Sempre haverá alguém para ocupar o seu lugar / Alguém que está mais desesperado / Mais desesperado que você / Você não é nada especial / No entanto, você é essencial / Para a linha de fundo / Agora volte lá / Talvez você consiga um aumento.”
Tom Herman´s Hermits – Carregada de fuzz, uma música com ótima melodia de guitarra. Homenagem com citações a banda Pere Ubu.
One or Two – Essa música me lembrou muito um Pearl Jam dos anos 90, um violão não característico, e que em alguns casos, emula um Led Zeppelin. Música composta por Dan Peters.
Cry Me An Atmospheric River – Letra com referência às questões ambientais, lembrando em algumas passagens uma música feita pelos Stooges, grande influência da banda.
Plasticity – Mais uma letra que fala sobre o meio ambiente, e como perderemos a guerra para o plástico. Tem a metáfora aqui também, de estarmos vivendo uma vida plastificada.
Little Dogs – A música mais fofa que o Mudhoney já fez, com letra dedicada ao cachorro de Mark Arm, Russel. O clipe também é uma fofura extrema.
35 anos sendo o Mudhoney
O Mudhoney chega a 35 anos de banda, sem nunca decepcionar, fiel ao que eles sempre foram. Já ouvi que eles vacilaram em nunca terem dado um tempo na carreira, e voltar posteriormente com uma dessas ofertas milionárias, como ocorreu com diversas bandas.

A banda está em turnê na Austrália neste mês de abril até o fim de maio, e volta a fazer shows em outubro nos EUA. Fica uma lacuna de 4 meses livres, quem sabe vindo para o Brasil. Mark Arm em entrevista para o urgesite disse que está em conversa com seu amigo André Barcinski tentando viabilizar. Aguardemos.
Às vezes, o que queremos é apenas ser feliz, e não mudar em nada o que somos. O Mudhoney nos entrega isso melodicamente, e ainda dá uns toques literais, para ficarmos espertos. Ficamos todos satisfeitos!
Seria o Mudhoney, os Ramones do grunge?