A música que virou livro e série
O livro Daisy Jones and the Six, lançado em 2019 nos EUA pela autora Taylor Jenkins Reid, virou instantaneamente um best seller, caindo nas graças do público por ser uma história de romance inspirada no encontro de uma compositora talentosa, Daisy Jones, com a promissora banda The Six. O amor, sexo, drogas e rock and roll, uma junção de clichês, embala a história que poderia ser chamada de piegas, se não fosse por ser claramente inspirada no ressurgimento da banda Fleetwood Mac com o casal Lindsey Buckingham e Stevie Nicks, ou seja, aconteceu.
O termo piegas aqui não será tratado como pejorativo, pois trata-se de assuntos explorados muitas vezes pelo cinema e literatura, e se bem contado, narrado, fotografado e interpretado, serão sinônimos de qualidade e sucesso. Assim como o livro, a série tem tudo para repetir a boa aceitação de um público amplo, desde aquele que gosta de uma boa história com triângulos amorosos, traições, reviravoltas, quedas, ascensões, até aqueles que se interessam por biografias do mundo da música e do rock.
Segundo o ranking do site Yahoo, a série já é a quarta mais assistida do ano. Nada mal para uma temporada que estreou a menos de quinze dias, e tem liberado 03 episódios a cada semana.
A história segundo a autora Taylor Jenkins
Narrado em forma de documentário musical, onde os personagens aparecem em perfil descrevendo as histórias, o enredo começa em meados da década de 60, quando mostra Margareth – que utilizará futuramente o nome artístico Daisy Jones – até então uma criança com gosto e talento para a música, ser desprezada pelos pais. Logo, o tempo é acelerado para a década de 70, onde Daisy rodeia a cidade de Los Angeles em Laurel Canyon e Sunset Strip atrás de seus ídolos, com o sonho de quem sabe um dia vir a se tornar um deles.
Em um outro canto do país, uma banda formada pelos irmãos Dunne, em Pittsburgh, toca em bailes da cidade, ganhando notoriedade e um relativo sucesso local. Contextualizando um pouco o drama, os irmãos Dunne também tiveram um trauma familiar, sendo abandonado pelo pai, e sendo criado apenas pela mãe. Logo, a cidade de Pittsburgh fica pequena para eles, e decidem ir para Los Angeles, alçar voos maiores. Um adendo, Billy, o irmão mais velho com mais talento e líder da banda, começa um relacionamento com a lindíssima Camila, estudante de fotografia, que terá um papel central na banda e na história da série. A banda viaja para L.A com Camila os acompanhando.
Em L.A, a banda procura empresários, contatos com gravadoras, apresentações a mil, até conseguir uma audição com Teddy Price, um famoso produtor musical. Teddy reluta, mas quando participa de audição, é fisgado pelo talento dos quatro componentes, que viram cinco, quando incorporam a tecladista Karen, a conhecendo na noite. Os cincos conseguem contrato e viram o grupo The Six.
Logo lançam um disco, viram sucesso, lotam shows, e com isso os problemas aparecem, pois os excessos da estrada, como álcool, drogas e mulheres, atropelam o talento do grupo e o ego do Billy Dunne. Um processo de auto sabotagem e traições, faz com que a banda tenha a primeira derrocada. É neste momento que entra Daisy Jones.
Daisy enquanto compõe em seu diário, trabalha em restaurantes e divide um apartamento com Simone, uma talentosa cantora de Soul Music. Enquanto procura meios para entrar no mundo da música e ver uma de suas músicas roubadas por um de seus namorados tornar-se um sucesso, Daisy, com a ajuda de Simone, começa a compor e logo chama atenção do mesmo produtor Teddy, que passa a procurá-la por diversas vezes para gravar um disco.
Algumas reviravoltas ocorrem e Teddy tem a sacada de juntar o então queimado e em baixa grupo The Six com a talentosa Daisy. A partir disso, a banda ganha fôlego e chama a atenção do público, e com a junção do talento e carisma de Daisy, com o ego de Billy, coloca fogo no enredo e tudo acontece.
Triângulos amorosos, a difícil escolha entre a família e a vida de rockstar na estrada, os excessos de Daisy que abusa das drogas e coloca a sua carreira a perder, histórias paralelas como o confronto sexual vivido pela Simone que tem medo da exposição, brigas internas entre os integrantes, tudo isso, é o que faz a trama ir ganhando corpo a cada episódio.
Ambientado na década de 70, com ótimas fotografias e representações da época, casas lendárias sendo retratadas, entre elas o Troubadour, Whisky a Go GO, e o lendário estúdio Sound City, são insumos de uma história a ser muito explorada podendo render temporadas de sucesso para a série.
O elenco
Formada por uma mescla de novos atores e promessas, e com coadjuvantes experientes, a série conta com os roteiristas Scott Neustadter e Michael H. Weber do ótimo filme 500 Dias Com Ela. Há a protagonista Riley Keough (Daisy Jones), neta de nada mais nada menos do que Elvis Presley, que inclusive canta no filme, e Sam Claflin, galã de filmes “Como eu era antes de você” e “Jogos Vorazes”, no papel de Billy Dunne.
Dentro do elenco, há uma representante do Brasil, a atriz Nabiyah Be, que nasceu em Salvador, na Bahia, e é filha de Jimmy Cliff. Nabiyah, que representa a diva da disco music Simone Jackson, já foi backing vocal da Daniela Mercury.
Também fazem parte, Suki Waterhouse (Karen Sirko), esposa de Robert Pattinson e com uma carreira musical consolidada, inclusive com shows agendados para o Lollapalooza Brasil, Josh Whitehouse (Eddie), Sebastian Chacon (Warren), Will Harrison (Grahan), a lindíssima hermana argentina Camila Morrone (Camila), o experiente Timothy Olyphant (Rod) fazendo o empresário de turnê dos The Six e Tom Wright (Teddy Price), veterano de diversas séries americanas, fazendo o produtor do grupo.
Inspirados em Fleetwood Mac
Em uma entrevista para o The Guardian, a autora do livro Taylor Jenkins, diz que a história não é uma biografia do Fleetwood Mac, mas sim, inspirado nas letras confessionais do disco Rumours, um dos álbuns mais bem sucedidos da história do rock, o então décimo primeiro disco da banda britânica que começou fazendo blues, e se reinventou em meados de 70, quando vieram para Los Angeles atrás de um melhor contrato e de novas inspirações.
Em frangalhos, com saída de antigos e importantes integrantes, gerando disputas pelo nome da banda, o Fleetwood Mac, então apenas com Mick Fleetwood, John Mcvie e Christine Mcvie (falecida recentemente), entram em estúdio para gravar um novo disco. Sem muitas inspirações, conhecem neste mesmo estúdio o casal Lindsey Buckingham e Stevie Nicks.
Seguindo uma indicação do produtor e engenheiro Keith Olsen, fazem audições com os dois e os incorporam na banda, lançando o intitulado disco Fleetwood Mac, que foi muito bem recebido, colocando a banda com um novo status e apresentando-os para um novo público.
Com isso, a banda segue o ritmo rockstar de extrapolarem no álcool, drogas e nos desgastes dos relacionamentos entre os integrantes, visto que havia dois casais dentro do grupo. Traições, abusos de drogas pesadíssimas principalmente pela Stevie Nicks e todas as ostentações possíveis, ao invés de destruir de vez com a banda, serviu para canalizar tudo em inspirações de letras
Rumours de fato é um diário e uma lavação de roupa suja contado através das letras confessionais de cada integrante. A banda não implodiu, e sim explodiu e atingiu o panteão que todo rockstar deseja. Viraram mega astros, com praticamente todas as músicas do disco sendo hits radiofônicos mundo afora. Second Hands News, Dreams, Don’t Stop, Go Your Own Way, The Chain, You Making Love Fun e Gold Dust Woman, são só algumas que todo mundo conhece.
Em Daisy Jones and The Six, há toda a referência desta era do Fleetwood Mac, que basicamente é o roteiro de várias bandas e artistas do rock até hoje.
Com diálogos fáceis, histórias marcantes e de fácil assimilação, personagens glamourosos e trilha sonora fantástica contando com as músicas da banda The Six e de artistas de sucesso da década de 70, a série tem tudo para se tornar sucesso e gerar frutos para outras que poderão vir. Não á toa, filmes biográficos de rock fazem muito sucesso nos cinemas, vide Elvis, Queen e Elton John.
Assistam a série, comprem o livro e ouçam logo os três discos do Fleetwood Mac da era de 1974 a 1980, pois é loucura e diversão garantida.
