Bruno Mars durante apresentação em SP no Morumbis - Foto: Instagram

Bruno Mars: Um show quase impecável para uma experiência nem tanto

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Cantor entrega tudo o que um astro pop com qualidade musical é capaz de oferecer, com uma experiência à moda antiga: o cantor canta, a banda toca, e o público se diverte (e reclama…).

Talentoso, carismático, ótimo performer, virtuoso, bom dançarino – não faltam adjetivos para descrever as qualidades do astro pop Bruno Mars. Mas vou acrescentar mais um à lista de tantos que só o enaltecem: cansado! Sim, Bruno Mars demonstra cansaço também.

Foi o que percebi ao assistir ao segundo show de sua extensa turnê de um mês pelo Brasil. Bruninho, como os fãs brasileiros o chamam, demonstrou, em alguns momentos, um certo cansaço e uma força que só astros pop com sua envergadura conseguem disfarçar, pois o talento sobrepõe. Em algumas passagens, dava para perceber o esforço para alcançar e manter determinada nota e tom, assim como para sustentar o carisma.

Bruno Mars durante apresentação em SP no Morumbis – Foto: Instagram

Claro, ele não para! Começa o show a mil por hora, cantando, dançando e coreografando com sua competentíssima banda, fazendo um show para o público e para as câmeras, pois o estádio e seus 80 mil espectadores precisam sentir o que ele está tentando passar ali naquele momento. E, mesmo cansado, Bruninho e sua banda conseguem entregar qualidade.

Esse aparente cansaço pode ser devido à agenda que o cantor vem mantendo: quase dois anos tocando pelo mundo, além de todos os compromissos que cercam um astro de seu tamanho. São compromissos comerciais, mídias sociais, entrevistas, traslados em aeroportos, fusos horários, bajulações, festas e tudo mais. Podemos achar que é fácil, uma vida de sonho, mas só os fortes sobrevivem ilesos. Não deve ser fácil ser “gostoso” e estar “facinho” todas as noites.

Dá para dizer que a base da atual turnê ainda vem da 24K Magic World Tour, que começou lá em 2017-2018 e continua em residências mundiais e pausas para trabalhos, como o projeto Silk Sonic, com Anderson .Paak, além de músicas esporádicas. Antes de sua “residência” pelo Brasil, Bruno Mars e sua banda, Hooligans, passaram por países como Japão, Tailândia, Cingapura e Israel.

Voltando ao show: Bruno Mars entrega um pop de altíssima qualidade. Estamos acostumados a ver vários artistas contemporâneos lotando arenas, muitas vezes sem banda, apenas com um pendrive e bases pré-gravadas, ou então recheados de playback. Mas isso não ocorre nos shows de Mars. Vemos uma banda afiada, na mesma sintonia de seu líder.

Bruno Mars durante apresentação em SP no Morumbis – Foto: Instagram

São pouco mais de duas horas com hits atrás de hits, um pop inspirado no melhor da música negra americana, como a Motown – onde Bruno chegou a trabalhar e que certamente venera –, além de muito carisma. Quase sempre sorridente, Bruno Mars encanta qualquer pessoa e audiência. Certamente, não sou o único jornalista a mencionar isso sobre ele. Aquele pai ou mãe que acompanhou o filho ao show – eu fui um deles, levei minha filha – ficou igualmente apaixonado e embasbacado com o que viu.

Ainda teve tempo de seu tecladista John Fossit tocar a música Cheia de Manias, do grupo de samba Raça Negra, e nos poupar da chatérrima, Evidências.

Bruno Mars conversa com a plateia várias vezes. Diz que está solteiro, quer arrumar uma namorada brasileira, elogia o público, faz caras e bocas, dança sensualmente, solta maneirismos que aprendeu por aqui e sai com o público na mão, completamente entregue. Suas músicas trazem o melhor da tradição black: pop, disco, reggae, rock, funk, R&B. Há solos de guitarra e bateria, momentos de piano e vocal e, acima de tudo, muito soul, literalmente.

E a experiência?

Hoje em dia, é comum dizer que shows e festivais não oferecem apenas música, mas um “pacote completo”, a chamada “experiência”. Já virou consenso que a música é uma fração pequena de um grande show (o que é no mínimo estranho) – e, se for um festival, nem se fala. A roda gigante e os estandes de marcas ficam mais cheios do que a pista para ver o artista se apresentar ou dublar.

No show de Bruno Mars, a experiência é mais focada na parte artística. Por isso, notei pessoas sofrendo com a falta do que fazer enquanto esperavam quatro, cinco horas antes do show começar. 

Não havia uma roda gigante. Se alguém saísse do lugar para fazer qualquer coisa, perdia o lugar. Normal pessoas! Shows em estádios são assim mesmo!

Pista estádio do Morumbis para o show do Bruno Mars – Foto: Fagner Ramos

 As distrações viraram torcer para haver brigas nas arquibancadas. Sim, não era um jogo, mas era estádio, e havia arquibancada, então ocorreram várias brigas, talvez por lugares. Pelo menos era o que se especulava na pista. A cada briga nas arquibancadas, o pessoal da pista aplaudia e filmava. Afinal, o que postar durante um intervalo de cinco horas sem poder sair do lugar?

A produção de Bruno Mars colocou nas caixas de som uma seleção de R&B, soul e funk americano. O que poderia ser uma bênção acabou se tornando um porre para alguns que reclamavam do “som de velho”. Alguns tentaram fumar, e começaram as reclamações. Quando alguém acendeu um cigarro de maconha, a indignação aumentou. Muitos diziam que aquele não era lugar para isso. Seria a gourmetização da pista?

E quando começou o show? Do alto do meu 1,69 m, eu só via celulares à minha frente. E minha filha, com 1,50 m? Não via nada. 

São duas as queixas que o público pode ter, com toda a razão. A primeira é a ditadura da pista premium, que empurra quem pagou caro para longe – quem está na pista “pobre” – sem chance de conseguir um bom lugar para ver o show. A segunda é que parte do público da arquibancada inferior reclamou bastante que a disposição do Estádio do Morumbi tornava a visão do palco horrível.

E a experiência? A minha foi levantar minha filha inúmeras vezes no colo para que ela enxergasse, o que me deixou com uma baita dor no joelho e nos braços. A dela, com 12 anos, foi a melhor possível. Primeiro show grande, de um artista incrível – então, tudo é novidade.

Uma certeza? Show em estádio não é recomendado. Se não tiver jeito, se essa for a única opção, vá de arquibancada – mas não brigue por lugar.

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