PJ Havery - Foto de STEVE GULLICK

PJ Harvey reflete sobre si em seu último álbum

Tempo de leitura: 7 min

“I Inside the Old Year Dying” ressoa como uma “autobiografia” que teve início em “Orlan”

Polly Jean Harvey lançou seu décimo álbum intitulado “I Inside the Old Year Dying”, pela gravadora Partisan Records, e foi pensado não resenhar logo de cara o seu trabalho. Também não estava planejado um período de espera de seis meses, mas certos discos demandam tempo para serem completamente compreendidos, disso eu tenho certeza.

A própria Polly deve pensar que o tempo além de curar feridas, e de nos tornar mais sábios — não para todos, claro — serve também para maturar ideias e conceitos, e até por isso, demorou sete anos entre o seu último trabalho, “The Hope Six Demolition Project”, e o novo álbum.

PJ Harvey em Paris, na turnê de seu último álbum
PJ Harvey em Paris, na turnê de seu último álbum – Foto por Cha Gonzalez

Se em “Hope Six” ela decidiu rodar por lugares e vivenciar as dificuldades dos povos que ali viviam, buscando inspirações para criar um novo disco, em “I Inside the Old Year Dying”, a escolha foi criar uma história usando como inspiração a si mesma. Muita das letras do disco são resíduos de seu livro de poemas “Orlan”, onde ela conta a história de Ira-Abel Rawles, uma camponesa de Dorset (cidade natal de PJ Harvey) que convive com a maldade de homens mais velhos, se apaixona por um soldado meio Jesus Cristo, meio Elvis, e perde a inocência da infância.

A história acima se assemelha muito a vida de PJ Harvey. Uma garota talentosa que, aos 19 anos, entrou na música e no rock, enfrentando, por meio de sua força e talento, o mundo machista que a cercava, lançando-se em carreira solo nos anos 90. Fez álbuns elogiados por toda a crítica e público, teve um romance arrebatador por Nick Cave, uma figura que lembra Jesus e Elvis e que marcaria sua carreira musical, e foi criando casca e estofo para ser uma das maiores artistas de sua geração, um peso que sucumbiu a muitos.

Neste disco, PJ trabalhou novamente com seu fiel parceiro, John Parish, e teve a companhia do produtor Flood, tanto na condução da obra quanto nos experimentalismos e barulhinhos aqui e acolá que permeiam o álbum. Olhando os créditos do disco, PJ Harvey além do ótimo vocal que vai ficando melhor com o tempo, gravou todos os instrumentos possíveis de cordas, piano, trombone, clarinete e ainda fez parte da arte da capa. Isso é algo normal em seus discos!

Capa do disco I Inside the Old Year Dying de PJ Harvey
Capa do disco I Inside the Old Year Dying de PJ Harvey

Em 39 minutos, você consegue entrar em seu mundo e visualizar aquele lugar etéreo em que é retratado nas letras e poemas. “Prayer at the Gate” que abre o disco, tem um vocal de arrepiar, uma bateria que marca a música, barulhos sutis de guitarras aumentando progressivamente, e uma letra que retrata as lembranças e os questionamentos de uma pessoa envolta com angústias do passado e incertezas do futuro.

“Autumn Term” é um folk-blues com os experimentalismos permeando a faixa, e com sample de vozes de crianças lembrando um vilarejo inglês. “Lwonesome Tonight” é música barroca inglesa tanto na melodia, quanto na lírica. Imagino que Robert Plant adoraria cantar essa música. “Seem an I” segue a mesma linha que a anterior, mas imprime uns toques eletrônicos, obra talvez de Flood. Esta faixa começa com berros de ovelhas. “The Nether-edge” é talvez a mais eletrônica e experimental do disco, e reforça o quanto a Polly usa muito bem recursos de estúdio para fazer da sua voz um novo instrumento. Sem falar nos dialetos utilizados na letra.

A faixa título do álbum talvez seja a mais “normal” para os padrões atuais de PJ Harvey. É um rock tocado com guitarras e violões, certeira nos seus menos de dois minutos de duração. “All Souls” volta para o novo mundo estranho retratado no disco, e começa aqui a ter “Elvis ficcional” presente em imagens e citações. 

Em “A Child´s Question, August”, que saiu como single, continua nas referências à Elvis, mantém a linha condutora do disco e tem o reforço de Ben Whishaw nos vocais, misturando sua voz grave com o agudo angustiante de PJ. O mesmo acontece com “I Inside the Old I Dying”, só que dessa vez com a ajuda nos vocais de Colin Morgan. 

PJ Harvey e Banda na turnê do último álbum em Olympia, Paris, 2023
PJ Harvey e Banda na turnê do último álbum em Olympia, Paris, 2023 – Foto por Cha Gonzalez

“August” e a música “A Child Question, July” possuem ambos os acompanhamentos de Ben e Colin no contraponto vocal, onde na primeira, uma linha de guitarra maravilhosa conduz a canção, e na segunda uma onda de loops, samples, barulhos de guitarras e uma bateria tribal, tudo de uma forma sútil, marcam o ritmo da música como se fosse uma ópera de melodias do caos. A faixa “A Noiseless Noise” encerra a obra barulhenta, mesmo que o começo engane, com guitarras tocadas a PJ Harvey anos 90, e uma bateria marcial. Simplesmente maravilhoso!

Esse disco foi feito para ser tocado ao vivo, e não em qualquer lugar, mas sim em teatros e casas preparadas para contemplar uma artista completa, pois PJ Harvey entrega mais do que um simples show de rock, ela entrega arte em estado puro. 

PJ Harvey na turnê do último álbum em Olympia, Paris, 2023

Recentemente, mais precisamente em, 13 de outubro de 2023, ela executou na íntegra o álbum no famoso Olympia, em Paris, com uma banda extremamente competente que vem a acompanhando. John Parish (guitarra e outros instrumentos), Jean-Marc Butty na bateria e backing vocals, James Johnston na guitarra, piano e backing vocals e o italiano, Giovanni Ferrario, tocando também guitarra, baixo e piano.

A chance de conhecer um pouco mais a artista e pessoa Polly Jean Harvey é neste disco. Portanto, saia do celular e aprecie com o tempo necessário que arte precisa para se revelar, pois, de alguma forma, se houver um coração batendo dentro do seu peito, você será impactado.

Avaliação: 5 de 5.
Último álbum de PJ Harvey

Ficha técnica

PJ Harvey – vocals, nylon string guitar, steel string guitar, electric guitar, baritone guitar, bass guitar, piano, Rhodes piano, bass clarinet, drawings, inner sleeve photography

John Parish – drums, percussion, vocals, Rhodes piano, synth, variophon, trombone, acoustic and electric guitar, bass guitar, mixing, production

Cecil – field recording samples, voice samples, bass keyboards, keyboards, synth, piano, loop creations, additional recording

Flood – synth, field recording samples, effects, pedals, loop creations, sonic disturbance, mixing, production

Ben Whishaw – backing vocals (tracks 8 & 10)

Colin Morgan – backing vocals (tracks 9 & 11)

Produção

Rob Kirwan – mixing, additional production, recording

Ed Farrell – assistant engineer

Jacob Zinzan – 2nd assistant engineer

Sumit Bothra – executive producer, management

Oliver Baldwin – additional recording

Jasdaface – lacquer cut by

Sam Petts-Davies – Original Recordings Of Ben Whishaw and Colin Morgan

ATC Management, Brian Message, Olivia Plunket – management

Jason Mitchell – mastering at Loud Mastering

Michelle Henning – art direction, design, front cover photography

Todd Lynn – back cover portrait – dress by

Kieran Tudor – back cover portrait – hair by

Rob Crane – additional design and typesetting

Steve Gullick – portrait & studio photograph

Brian Whar – portrait & studio photography assisted by

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