Entrevista realizada em 16/06/2022.
Diego fala do começo no rock, do Bike e os planos pro futuro, projeto solo DX3, influências e afins
Bom dia Diego, tudo bem? Primeiramente obrigado pela entrevista. Queria saber um pouco mais a respeito do Diego. Como ele se enveredou na música, como parou no rock?
R: O rock entrou como todo mundo, na adolescência. Ouvia qualquer coisa, porque era o que tinha. Estou com 36, então demorou para eu ter internet e ter mais acesso às coisas. Principalmente em São José dos Campos. Eu fui ter computador em 2003, então dependia de amigos e o que caía na mão, nem sonhava em tocar. Depois no colégio técnico com os amigos, comecei a querer fazer banda, ter contato com instrumentos. Quando comecei a trabalhar tive um contato forte com a cena independente, comecei a conhecer mais, ouvir banda gringa, o hardcore estava forte aqui, ouvi as bandas que faziam parte da cena de SJC. Em 2008 e 2009 foi quando comecei a ter banda, de dar rolê, ter banda punk. Nesse caminho comecei a conhecer outras pessoas com outras influências, indie rock, que nem conhecia. Comecei a ouvir muito isso, tocando, trabalhando com música. Abri o estúdio Wasabi, fiz bandas autorais, comecei a conhecer de produção e desenvolver. Em 2015, junto com o Julio surgiu o Bike. Já tocava com ele em outras bandas em 2013/14, e ele me chamou para mostrar algumas músicas. Trabalhamos em arranjos num projeto que seria só dele, e quando ele decidiu de fato seguir, já estava em processo de tocar e gravar com outras pessoas e me chamou e gravamos. Quando lançamos, deu um boom, porque acabou saindo um single na coletânea do Danger Mouse. Foi um lance meio espontâneo e por causa dessa repercussão começamos a correr atrás como banda, porque até então não era uma banda oficializada, era um projeto do Júlio com amigos. Acabamos nos virando para fazer a banda virar, saí da minha banda atual, e focamos no amadurecimento para fazer a banda rolar.
A banda que tinha junto com o Júlio antes tinha uma veia psicodélica, mas no Bike desenvolvemos essa vertente.

Ouvindo seu som no DX3 (solo), é latente influências das bandas dos anos 90. Low fi, indie rock, muito do Pavement talvez, bandas ali das College Radios americanas. Já no BIKE, é mais psicodélico, influências do rock de 60, 70, Syd Barrett. Fala um pouco das suas influências musicais, talvez nem seja só rock como eu venho mencionando aqui. Enfim, o que fez e o que faz atualmente a sua cabeça na música?
R: Passado a empolgação com o Hardcore e trabalhando no começo do Bike com uma onda psicodélica, já ouvia e gostava de muitas bandas dos anos 90, e isso foi puxado mais para o meu trabalho solo, que no começo seria solo, mas chamei dois amigos que gostavam das mesmas coisas. Começamos a tocar baseado no que ouvíamos mais, Pavement, Dinosaur Jr., Sonic Youth, Built to Spill, bandas dos anos 90 que sempre ouvi e que foi minha paixão. Nas antigas bandas de hardcore eu tentava puxar já para uma pegada do alternativo, mas só fui desenvolver isso mesmo no solo. No primeiro disco isso ficou bem latente. Já no segundo, as influências intensificaram um pouco para um som emo antigo, Jawbox, Duster, Sunny Day, coisas mais Slowcore. As influências do Bike já são meio Pink Floyd, psicodelia brasileira, tropicália, movimento udigrudi do nordeste, Lula Côrtes, e depois de uma turnê na Europa acabei pegando influências do Kraut Rock, CAN, NEU!. Na hora da composição acabo pegando tudo isso e vai se misturando nas duas bandas.
“O DX3 nasceu para ser um laboratório, uma pelada de meio de semana, o lance profissional fica pro BIKE”
Indo para os discos do Diego Xavier, vocês lançaram dois discos cheios, 2017 o primeiro, depois em 2019 o segundo (Recortes), e em 2020 e 2021 dois Singles com duas músicas. Por que singles e não mais álbuns?
R: Lançar um disco tem toda uma complexidade com custo alto, porque single é mais barato, mesmo eu fazendo toda a pré produção, tem a arte, outras coisas que encarecem o produto. Os dois singles foram lançados com músicas que já tínhamos, até com umas pegadas mais pop, como por exemplo “Alvo Errado“, e como queríamos apontar para outras vertentes, lançamos, e nossa ideia era vir com um disco cheio novo, mais pesado, experimental. O single as vezes funciona como teste para ver a reação do público, para dar andamento ao trabalho e ser base de novas coisas.

Vale a pena lançar um disco cheio? Ou é mais o valor sentimental do rockeiro que precisa lançar o álbum?
R: Vale como apelo artístico, e no DX3 essa é a ideia. Não temos intenção de virar, viralizar no TikTok, mesmo que o som seja mais palatável. Quero atingir a galera da nossa idade. Já para o lance mais comercial e profissional, fica a cargo do Bike, e os álbuns carregam um contexto. Os discos do DX3 saíram todos em streaming, uma pequena tiragem bem básica para ser vendida em shows e só. Se tivesse um selo que bancasse lançar em formato físico, seria maravilhoso, ou até mesmo por um edital que já aproveitaria e lançaria em Vinil, 7 polegadas.
“Disco novo do DX3 está mais colaborativo, dois sons são do Ricardo”
No primeiro álbum eu vejo toda a pegada rock mais cru ali, depois senti vocês mais experimentais. Até no vídeo ao vivo tem uma música que tem mais de 06 minutos. O conceito vem mudando de 2017 para cá?
R: Pelo fato de tocar nas duas bandas, não tem como não respingar as influências. Tentei afastar bem isso, mas acaba que por ser a mesma pessoa na composição e as bandas estarem juntas, ouvindo e até rolando aproximação dos ensaios, essa troca ocorre. Essa música de 06 minutos é do disco novo que foi gravado junto com o Fernando Sanches do El Rocha, e já carrega essas influências que fui passando para o Ricardo e o Rodrigo, bandas do Krautrock como o CAN, NEU! que eles não conheciam, assim como outras bandas novas que também bebem nessa fonte como Dry Cleaning, Idles, Viagra Boys, e acabamos experimentando coisas diferentes, até com uma pegada mais psicodélica. Por exemplo, os meninos trazem essas outras influências também, o Ricardo, baixista, toca numa banda de Reggae e o Rodrigo numa banda de Afrobeat, então são coisas que respingam no trabalho.

“Carlos dias do Polara é sensacional”
Falando de letras, muitas são confessionais. Tem ali angústias, anseios, desesperança, o dia a dia, tudo bem casado com as melodias. Você não se sente muito exposto?
R: Tenho muito medo de ser mal interpretado. Já não sou um cara muito de conversa, então acaba rolando um receio mesmo de se expor e ser taxado como sério. Os clipes e fotos até são feitas para tirar um pouco do contexto sério das letras, com uma pegada mais engraçada e haver esse contraponto. Para o Bike eu tento ser mais poético, mas no Dx3 é mais eu sendo eu. Frases que uso no dia a dia, pensamentos diários, como por exemplo “De novo é foda, já tinha errado outra vez…” da música Alvo Errado. Gosto muito do Polara e a forma como o Carlos Dias escreve, que fala de uma forma direta e simples, crônicas do dia a dia.
Falando do BIKE agora. Vocês também lançaram 4 trabalhos, mas todos álbuns cheios e dois com registros ao vivo. A psicodelia e o experimentalismo foram o ponto central da banda?
R: A intenção desde o nome da banda até o nome do primeiro disco era ser voltado para o psicodélico, inspirado muito nos primeiros discos do Pink Floyd. Na época o Tame Impala também estava despontando no cenário, bombado com o disco de 2012 e meio que estávamos mergulhados nesse universo.

Com o Tame Impala estourado e outras bandas gringas, surgiu uma nova onda de Rock Psicodélico, e isso ocorreu no Brasil também. Boogarins, vocês, Supercordas, entre outras, apareceram e ganharam um respeito internacional. Vocês sentem que há uma cena do Neo Psicodélico?
R: Não sei se há uma cena. De 2015 a 2017 toda cena brasileira ficou um pouco psicodélica. Até bandas que nem eram tão nesse estilo, beberam nessa fonte e lançaram discos com essa pegada, surfando nessa onda e voltando depois para o que era na sua essência. Para a gente não mudou, sempre foi o som que quisemos fazer. Gostamos do Supercordas, Bonifrate, a galera do Oruã, Boogarins, tocamos com todos ou quase todos. Trouxemos muitas bandas para tocar no nosso estúdio, nos identificamos com eles, mas flertamos com o cenário internacional. Difícil falar de cena de tal estilo no Brasil, podemos falar que há uma cena independente onde todos se misturam. Psicodélico brasileiro mesmo acho que não existe, mas há bandas boas por aí.
Como foi o reconhecimento internacional? Os shows realizados lá fora? Vocês pensam em retomar a banda focando o mercado lá de fora?
R: O som psicodélico lá fora nunca parou, sempre há bandas nesse estilo, se renovando, fundindo com novas cenas, Europa, EUA, pessoas como Ty Segall, então conhecemos e temos contato com eles. Sim, acabamos mirando nesse mercado. O fato de sair na coletânea do Danger Mouse foi importante para a banda ser o que é hoje. Março de 2015 saímos na coletânea dele e em julho lançamos um disco, que foi muito bem aceito, abrindo portas para vários shows. Por ser tudo recente, começamos a aprender na estrada, tudo estava muito cru, mas foi uma baita experiência, pois conseguimos fazer um nome no circuito. Os gringos gostam muito de ver uma banda brasileira psicodélica, e o mercado hoje está muito aberto para bandas do mundo todo. Tocamos com bandas do Japão, Koreia, então o vocal por exemplo, passa a ser um detalhe para os gringos. Eles na verdade querem novidades, até por uma saturação do mercado, então bandas fora do eixo tem um destaque muito grande lá fora. Eles acabam prestando atenção como conseguimos fazer um som que está na veia deles, até no uso de instrumentos típicos da nossa cultura. O Their Shamanic tem muito de Brasil e eles gostaram muito.
O último álbum foi gravado com o Apollo 9 e o Renato Cohen. Cito o Apollo 9, porque ele herdou muitos equipamentos do Roy Circalla. Como foi gravar com o Apollo e usar essas máquinas que fizeram parte da história do rock? Rolou alguma história boa que o Roy contou para o Apollo?
R: Utilizamos estes equipamentos, o Apollo acabou ficando com parte destes equipamentos. São equipamentos não convencionais que o Roy acabou construindo.
Sai disco novo do Bike neste ano?
R: Gravamos um disco no estúdio do Guilherme Held, e estamos mixando com ele, mas acreditamos que ainda não saia este ano. Vamos tocar com ele no festival PicNik (Festival que já ocorreu) em Brasília.
“O disco Quarto Templo chegou até no Dudu Borges, o cara do novo Sertanejo”
Eu gosto muito do Quarto Templo, vocês têm alguma preferência de disco? Acho esse disco bem mais palatável para qualquer tipo de público, essa foi a ideia inicial?
R: Esse disco saiu pelo selo Quadrado Mágico, do Mendel, organizador do PicNik. Ele financiou o disco e como havíamos trabalhado num remix da Montanha Sagrada com o Renato Cohen pelo Quadrado Mágico, o Mendel entrou para financiar e com a ponte entre ele o Renato, foi indicado o Apollo 9, para fazermos no estúdio dele. Acabamos fechando a música com muita influência e experiência deles. O conceito era abranger um pouco mais nos sons e pegar um novo público, uma nova molecada, para não ficar só na vibe psicodélica de tiozão. No fim com esse disco tivemos feedback de vários segmentos do rock, até de pessoas que curtem Metal. Vermelho como Brasa por exemplo chegou no produtor de Sertanejo Dudu Borges, onde fizemos uma versão no estúdio dele, com uma pegada até mais pop. Então sim, o disco abriu mesmo o leque, além do nome lá fora, selo internacional, serviu para crescermos aqui no mercado nacional. Para você ter uma ideia, até minha mãe e minha sogra escutam, coisas que não aconteciam antes.
Dos quatro discos, se tiver que indicar um para conhecer a banda, indico o Quarto Templo que mostra tudo o que fizemos e os rumos que vamos tomar daqui para a gente. Mas um disco do coração é o Shamanic, o terceiro disco.

Como foi passar pela pandemia em todos os aspectos? Como banda, como músicos, como cidadão?
R: Foi complicado, vivo do estúdio, ensaio e gravação e da banda, e com a pandemia acabei virando UBER para suprir as necessidades. Tivermos um período bem complicado, uma deprê nos assolou. Tínhamos negociações para ir para a gringa de novo, e caiu tudo. O Quarto Templo saiu e fizemos poucos shows com ele. O que acabou salvando um pouco como artista, foi o lance do edital que tivemos que aprender a fazer, e com isso lançamos o disco ao Vivo do Bike e mais alguns trabalhos com o DX3.
Você poderia fazer um TOP 5 de discos importantes para você? Discos que fazem parte da sua história?
R: Dark Side of the moon (Pink Floyd), Polara que me influenciou na escrita, Discos do Fugazi, Dinosaur Jr. e Sonic Youth que me abriram leque para as demais bandas.
Quais os planos do Bike e do Diego Xavier Trio? Discos, shows?
R: Como estamos trabalhando com o Held, ele lançou um disco na pandemia muito bom que acabou não sendo muito divulgado e trabalhado. E em cima desse feat que fizemos com ele, propomos sair em conjunto os dois tocando músicas do seu trabalho e ele do nosso. Depois do Picnik queremos continuar tocando com ele em outros shows, em julho vai ter mais um em SP com ele e estamos indo atrás de mais shows, além de shows com o Bike. Com o DX3 queremos lançar o disco produzido pelo Fernando Sanches esse ano ainda. E ano que vem ir para a gringa novamente.