Gangrena Gasosa e sua passagem por Santa Catarina, conservadorismo, pandemia e trajetória.
Como está a turnê pelo sul do país (mais precisamente Santa Catarina), e a receptividade de público?
R: Rapaz, tá sendo incrível, a gente aqui no sul a gente só tem as melhores experiências, né? Nós viemos no Armagedom de que ano? 2019, tá aí o Clóvis que não me deixa mentir. Em 2019 nós tivemos aqui, e já foi incrível também, e cara e agora a gente tá aqui de volta, né? Com a Xaninho Discos e com a Mosh Productions e enfim, junto ali com a galera também envolvida, né? A galera do também Fernando Zimmermann e tal, e cara e tá sendo incrível, tá sendo incrível, recepção ótima, tratamento melhor ainda, tudo certinho, tudo nos trinques, e o pessoal comparecendo em peso.
Joinville é uma cidade bastante conservadora, religiosa, reduto militar e Bolsonarista. Vocês sentem ou se preocupam com esse lado conservador, até pela temática da banda ser de uma religião com bastante preconceito?
R: Cara, assim, já começa que se a gente tivesse medo a gente nem se vestia de entidade. Então já começa por aí. Não vai ser meia dúzia de facho, bunda rachada que vai fazer com que a gente mude qualquer coisa que a gente queira fazer, sacou? Então assim, nós sabemos que existe essa fatia, né? Essa fatia da população que verdade não é só aqui não bicho, é no Brasil inteiro. Ó pra você ver esse lixo que está vestindo lá a faixa em Brasília, esse lixo é do Rio de Janeiro né velho? Então assim Rio de Janeiro é assim, é metade dominada por traficante, metade dominada pela milícia. Então, velho, é assim em todo lugar, não é só no sul que isso acontece não. Então, cara, a gente vem, e a gente vem na maior, bicho. A gente vem na maior, não tem essa não. na maior, se eles tem o direito de existir, que não deveriam nem ter, se eles tem o direito de existir, eles vão ter que segurar essa pemba aí, vão ter que aguentar a gente por um tempo ainda.

A banda conta com mais de 30 anos, lançou o último álbum em 2018 (Gente Ruim….), um EP Kizila em 2020. Tem algum álbum novo sendo feito ou algum projeto para comemorar essa data emblemática?
R: Estamos sim meu irmão, estamos sim, gente lançou o Gente Ruim em 2018 e aí nós excursionamos o todas as regiões do Brasil, né? 2018, 2019, quando 2020 a gente chegou é agora!! É agora esse momento, vamos soltar aqui, soltamos logo um EP como você falou.
Agora a gente está na porra, a gente está como se fosse no pique Anitta, sacou? A gente está pegando, a gente está lançando o clipe, agora é só pra cima. Já com outras músicas preparadas também, né? Só que a gente acabou tendo que lidar logo depois que nós lançamos o EP mais ou menos ali na época do Carnaval de 2020, né? E achamos que seria o último Carnaval da humanidade, bicho. Ah não, mas tudo deu certo e a gente tá aí de volta, cara, e pra esse ano a gente deve lançar o disco novo a não ser que que os Exus tenham uma outra configuração guardada pra gente. Esse ano aí que vai sair o disco novo da gangrena gasosa. Já estamos trabalhando no disco novo.
A banda tem um respeito dentro da cena nacional, mas 30 anos no underground trás qual sentimento para a banda? O que motiva ainda continuar?
R: Só vale, irmão, só vale. É claro que vale. E cara, assim, eu acho que a única resposta, a única não, mas eu acho que a resposta mais expressiva pra isso é que a gente é teimoso. Então assim, eu sou teimoso, rapá. Então a gente segue com altos e baixos, já tivemos altos e baixos esses anos todos, né? É entre troca de formação, enfim, entre todas as dificuldades que qualquer banda underground, né? E tem no Brasil, nós conseguimos ali segurar essa marimba até o final e cara, e é natural bicho. É que todo mundo que tá aqui tocando na gangrena gasosa hoje, sabe que nasceu pra fazer. Então é bem natural.
Como anda o relacionamento com os antigos integrantes do Gangrena, visto que eles em algum momento entraram com uma ação contra vocês pelo nome da banda? Eles se apresentam como se fosse uma banda cover deles mesmos, tranquilo quanto a isso?
R: É. Rapaz, na verdade assim, eu não tenho muita vontade de falar de quem não gosta de mim, eu gosto de falar de quem gosta de mim. Só a única coisa que eu tenho a dizer sobre isso é o seguinte, o nome é registrado entendeu? Não tem choro, nem vela, nem fita amarela, e lugar de chorar é na cama quentinha. Então que vá chorar na cama quentinha que perdeu cara, perdeu, num tem essa, só isso, só isso. Eu tô falando isso, cê sabe por quê? Falando isso só por conta do nome, porque as pessoas ficam achando cara, eu estou na gangrena desde 1994 né? E o pessoal foi saindo então eu fico pensando que de repente, o fã pô será que vai acontecer alguma coisa? Será que vai mudar? Não vai mudar nada. não vai mudar nada. Duralex Edilex no cabelo, só não muda nada é Duralex aqui ó. Firme e forte, firme e forte pode vir, pode vir, que não tem essa não, e tem que chorar na cama que é lugar quente.
Pergunta para o Davi (Omulú). O Omulú sempre foi uma parte integrante muito importante da banda. Como que é que está neste lugar?
R: Está sendo bom pra caramba. Eu acho que é um é um orixá totalmente importante assim pra religião, né? É o orixá da vida, da morte. Então tem tudo a ver com a banda, sabe? Sobre os exus, as entidades, a Kalunga que representa o Omolu, né? E tá sendo bacana pra caramba, só gratificação total.

A religião faz parte de fato da banda, os integrantes a seguem? Ou ficou na temática e na parte teatral?
R: É. Sim. É representação. O que a gente faz no palco é uma representação dos arquétipos da umbanda e do candomblé, não tem nada ritualístico, sacou? É só pra trazer pra dentro do heavy metal essa coisa do ocultismo, né? Trazer uma referência brasileira. E assim, e pessoalmente, individualmente eu no caso posso falar por nós dois né? Que estamos aqui falando com você. Eu no caso cresci no candomblé porque minha mãe é mãe de santo do candomblé entendeu? Então a minha infância já foi dentro de terreiro de candomblé. E agora o Davi que entrou, o Davi é Ogan, entendeu? Então cara é muito importante, porque a gangrena gasosa é aquilo. Representa Exu, mas não é ritualístico. Só que a gente acaba entrando dentro do mundo de Exu de tantas formas, por exemplo, Exu ele fala sério, rindo. Rindo ele fala sério. E é o que a gente faz, nós não temos nenhuma pretensão de ser uma banda gospel. né? Mas apesar disso nós agimos como Exu, a gente fala da coisa séria brincando, entendeu? Então é isso, a interpretação é essa bicho.

Ângelo, e o trabalho de cartunista e ilustrador? Caminha junto com a banda? Ou um sobrepõe o outro?
R: É rapaz o que acontece é que na pandemia acabou todo mercado de entretenimento, né? Mercado artístico, né? Então assim, tá beleza, ainda trabalhei, ainda fiz alguns trabalhos durante a pandemia. Só que aquilo, a pandemia meio que deu uma trava em tudo que não era serviço essencial pra você comer e pra você viver. Apesar que você come, você dorme, você mora. Mas pra você aguentar a sua vida, e na pandemia isso ficou bem claro, você precisa de arte. Então de qualquer forma ninguém que estava na pandemia aguentaria sem arte, vivendo só com seu carro novinho. Não é isso? Quem estava na pandemia estava lá consumindo sua Netflix. Estava lá consumindo livros que é pra não pirar dentro de casa, né bicho? Mas assim, mas a produção de novos trabalhos no meio de entretenimento ficou bem difícil, né cara? Mas agora já está já normalizando, né? Num tá cem por cento, mas tá normalizando, e quanto ao que eu faço na galeria e o que eu faço, como eu trabalho de ilustrador, é cara isso tudo se cruza né? Porque eu acabo fazendo as capas dos discos, eu acabo fazendo o site, eu acabo sabe? Uhum. Então acabo fazendo merchandising da banda, né? Cuidando das redes sociais. Então isso tudo acaba sendo um cross mídia, uma coisa vai permeando a outra, já chega um ponto que uma coisa não existe sem a outra entendeu?

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